O método do "choro controlado" consiste em
deixar o bebé chorar por períodos progressivamente maiores, para remover "manhas"
ou maus hábitos no campo do sono e ensinar a dormir. Aqui o choro é considerado
choro genuíno e não um género de “reza” que os bebés usam como barreira sonora
para se abstraírem do meio envolvente e adormecerem.
A metodologia tem
os seus méritos pois na sua génese passa
por eliminar quaisquer “muletas” que se possam comprometer a conciliação do
sono, que se quer tanto simples como autónoma. Assenta na base correcta de
que para adormecer apenas são necessárias condições básicas e ter sono. Na sua base
dormir é isso mesmo, é “desligar” e abstrair de qualquer distracção ou
associação a outros elementos.
No entanto, este método, quando utilizado por
experimentação, pode deixar marcas porque
afeta a confiança que o bebé
desenvolve com a Mãe/Pai e compromete a sua noção de segurança.
O método descura uma série de premissas essenciais da
conjugação com outros campos, importantes no desenvolvimento equilibrado do
bebé e igualmente promotores do sono. Descura
pormenores relevantes do campo da alimentação, como adequação com ritmos de
alimentação, ocorrência de impulsos de crescimento, ou ausência de um gradual e
sólido desmame nocturno. Descura igualmente alicerces relevantes do campo emocional, pois pretende
conquistar o autocontrolo emocional através da desistência de choro.
O método analisa o campo do sono como um campo
independente a qualquer outro na vida do bebé. E por isso em questões de proteger, promover e ensinar a dormir a médio,
longo prazo, o método torna-se limitado
e incompleto.
Além de algo cruel, deixar um bebé a chorar, é como se
lhe disséssemos: "Eu não me importo
com o que tu sentes", o que o faz sentir-se ignorado nas suas maiores
dificuldades (como controlar as suas próprias emoções e movimentos,
especialmente quando já está cansado e tem mais dificuldade em fazê-lo), mesmo
que seja apenas por 5 minutos - para o bebé 1 minuto pode parecer uma
eternidade. O bebé sente-se inseguro porque não sabe se vai conseguir
acalmar-se sozinho, também não sabe se os Pais o irão confortar ou se o
abandonaram.
Não é de estranhar que quando se façam esforços para
devolver a confiança perdida, depois de já se ter deixado o bebé a chorar por
várias vezes, este esteja “desconfiado” em relação àquela situação, muito mais intolerante à separação e
faça choro tendencialmente de pânico, seja para a sesta, ou à noite para
dormir, ou para brincar sozinho, aumentando assim, na maior parte dos casos, as
fobias - ao berço, à hora de dormir, quando a Mãe se ausenta para ir à sala ou
vai trabalhar.
Agrava-se normalmente quando o bebé entra na fase da
"ansiedade normal de separação", que é uma fase normal no
desenvolvimento do bebé e que é intensificada entre os 7-9 meses. Caso os Pais
não saibam como ajudar o bebé a sentir-se mais seguro nesta fase, podem
involuntariamente contribuir para uma
intensificação de insegurança.
Por exemplo, é comum os Pais, por desconhecimento e
exaustão, irem do “oito ao oitenta” - ou adormecem o bebé ao colo, ou de um dia
para o outro, sem qualquer preparação, dão-lhe a visão de uma realidade oposta,
deixando-o chorar sozinho.
Usar o método do choro controlado nesta fase é a
confirmação do maior receio que o bebé poderia ter: “ Afinal isto pode-me mesmo
acontecer, eu já desconfiava que não era bom quando a Mãe desaparecia”.
Pior mesmo
que iniciar este método é não avançar com ele até ao fim, até ao bebé aprender a encaixá-lo como o normal da
sua vida e sentir-se seguro com essa nova realidade. Ao não levar esse método
até ao fim, obtém-se um efeito oposto ao desejado, no aumento de insegurança do bebé.
Afinal ele tinha razão, foi abandonado a chorar, e
mais resistente e em pânico estará depois desta tentativa, não persistida, em
continuidade.
Outra situação, perfeitamente desajustada, é aplicar o
método a um bebé recém-nascido ou de meses, cujo as causas de choro ou de dificuldade em adormecer prendem-se
normalmente com causas de fome, “super-estimulo”, exaustão (o que os
empurra para expirais de choro, quando o cérebro não tem capacidade de
controlar as emoções e movimentos). Nesta fase, será perfeitamente desajustado
pensar-se em eventuais manhas.
Tendencialmente, o
método ignora as razões do choro, pois não analisa concretamente se o bebé
está a chorar por “super-estimulação”, por manha, por fome, ou outra razão qualquer.
Um bebé que tem peso para uma rotina de 3 horas entre refeições, e já passaram
3h00 e chora quando é posto a dormir nessa altura, não pode de maneira alguma
compreender que são horas de dormir, mesmo que esteja cansado, o bebé também
lida com o desconforto da fome. E caso se faça a técnica do choro controlado
para que ele durma, só se está a intensificar a associação de fome à hora de
dormir e ao berço. Daí que esta técnica não permita analisar muito bem as
causas reais do problema relativo ao sono nem o desenvolvimento da relação de
confiança entre bebé e Pais.
Conhecer o
tipo de choro, é imprescindível para que os pais possam conhecer melhor o seu
bebé, agir e corresponder de forma objetiva em relação à sua necessidade. A utilização comum do método descura o tipo de choro
pois dá relevância apenas ao tempo de choro.
A utilização desta técnica descobre-se muitas vezes,
pela forma como o bebé chora quando é deitado no berço, chorando de forma
"histérica", "trepa" pelos braços quando vai ser posto a
dormir. Apresenta incapacidade em adormecer ou simplesmente acalmar-se. Restaurar a confiança nestes casos é
fundamental, requer recuperação e tempo, pois agora o bebé sente-se mais
inseguro e "desconfiado" e logo mais resistente ao acto de dormir.
Desenvolver
a confiança do bebé é um trabalho contínuo e
deve começar desde o primeiro dia. Deve ser articulada funcionalmente com numa
rotina adequada à idade e peso do bebé, para permitir uma leitura mais clara
das reais causas de choro e sinais deste. Ensinar
a dormir pressupõe igualmente conhecer as causas das dificuldades e do
choro e resolvê-las na sua raiz em vez de simplesmente aplicar o modelo “deixar
chorar”.
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