terça-feira, 5 de novembro de 2013

Malefícios do método "choro controlado"


O método do "choro controlado" consiste em deixar o bebé chorar por períodos progressivamente maiores, para remover "manhas" ou maus hábitos no campo do sono e ensinar a dormir. Aqui o choro é considerado choro genuíno e não um género de “reza” que os bebés usam como barreira sonora para se abstraírem do meio envolvente e adormecerem.

A metodologia tem os seus méritos pois na sua génese passa por eliminar quaisquer “muletas” que se possam comprometer a conciliação do sono, que se quer tanto simples como autónoma. Assenta na base correcta de que para adormecer apenas são necessárias condições básicas e ter sono. Na sua base dormir é isso mesmo, é “desligar” e abstrair de qualquer distracção ou associação a outros elementos.

No entanto, este método, quando utilizado por experimentação, pode deixar marcas porque afeta a confiança que o bebé desenvolve com a Mãe/Pai e compromete a sua noção de segurança.

O método descura uma série de premissas essenciais da conjugação com outros campos, importantes no desenvolvimento equilibrado do bebé e igualmente promotores do sono. Descura pormenores relevantes do campo da alimentação, como adequação com ritmos de alimentação, ocorrência de impulsos de crescimento, ou ausência de um gradual e sólido desmame nocturno. Descura igualmente alicerces relevantes do campo emocional, pois pretende conquistar o autocontrolo emocional através da desistência de choro.

O método analisa o campo do sono como um campo independente a qualquer outro na vida do bebé. E por isso em questões de proteger, promover e ensinar a dormir a médio, longo prazo, o método torna-se limitado e incompleto.

Além de algo cruel, deixar um bebé a chorar, é como se lhe disséssemos: "Eu não me importo com o que tu sentes", o que o faz sentir-se ignorado nas suas maiores dificuldades (como controlar as suas próprias emoções e movimentos, especialmente quando já está cansado e tem mais dificuldade em fazê-lo), mesmo que seja apenas por 5 minutos - para o bebé 1 minuto pode parecer uma eternidade. O bebé sente-se inseguro porque não sabe se vai conseguir acalmar-se sozinho, também não sabe se os Pais o irão confortar ou se o abandonaram.

Não é de estranhar que quando se façam esforços para devolver a confiança perdida, depois de já se ter deixado o bebé a chorar por várias vezes, este esteja “desconfiado” em relação àquela situação, muito mais intolerante à separação e faça choro tendencialmente de pânico, seja para a sesta, ou à noite para dormir, ou para brincar sozinho, aumentando assim, na maior parte dos casos, as fobias - ao berço, à hora de dormir, quando a Mãe se ausenta para ir à sala ou vai trabalhar.

Agrava-se normalmente quando o bebé entra na fase da "ansiedade normal de separação", que é uma fase normal no desenvolvimento do bebé e que é intensificada entre os 7-9 meses. Caso os Pais não saibam como ajudar o bebé a sentir-se mais seguro nesta fase, podem involuntariamente contribuir para uma intensificação de insegurança.

Por exemplo, é comum os Pais, por desconhecimento e exaustão, irem do “oito ao oitenta” - ou adormecem o bebé ao colo, ou de um dia para o outro, sem qualquer preparação, dão-lhe a visão de uma realidade oposta, deixando-o chorar sozinho.

Usar o método do choro controlado nesta fase é a confirmação do maior receio que o bebé poderia ter: “ Afinal isto pode-me mesmo acontecer, eu já desconfiava que não era bom quando a Mãe desaparecia”.

Pior mesmo que iniciar este método é não avançar com ele até ao fim, até ao bebé aprender a encaixá-lo como o normal da sua vida e sentir-se seguro com essa nova realidade. Ao não levar esse método até ao fim, obtém-se um efeito oposto ao desejado, no aumento de insegurança do bebé.

Afinal ele tinha razão, foi abandonado a chorar, e mais resistente e em pânico estará depois desta tentativa, não persistida, em continuidade.

Outra situação, perfeitamente desajustada, é aplicar o método a um bebé recém-nascido ou de meses, cujo as causas de choro ou de dificuldade em adormecer prendem-se normalmente com causas de fome, “super-estimulo”, exaustão (o que os empurra para expirais de choro, quando o cérebro não tem capacidade de controlar as emoções e movimentos). Nesta fase, será perfeitamente desajustado pensar-se em eventuais manhas.

Tendencialmente, o método ignora as razões do choro, pois não analisa concretamente se o bebé está a chorar por “super-estimulação”, por manha, por fome, ou outra razão qualquer. Um bebé que tem peso para uma rotina de 3 horas entre refeições, e já passaram 3h00 e chora quando é posto a dormir nessa altura, não pode de maneira alguma compreender que são horas de dormir, mesmo que esteja cansado, o bebé também lida com o desconforto da fome. E caso se faça a técnica do choro controlado para que ele durma, só se está a intensificar a associação de fome à hora de dormir e ao berço. Daí que esta técnica não permita analisar muito bem as causas reais do problema relativo ao sono nem o desenvolvimento da relação de confiança entre bebé e Pais.

Conhecer o tipo de choro, é imprescindível para que os pais possam conhecer melhor o seu bebé, agir e corresponder de forma objetiva em relação à sua necessidade. A utilização comum do método descura o tipo de choro pois dá relevância apenas ao tempo de choro.

A utilização desta técnica descobre-se muitas vezes, pela forma como o bebé chora quando é deitado no berço, chorando de forma "histérica", "trepa" pelos braços quando vai ser posto a dormir. Apresenta incapacidade em adormecer ou simplesmente acalmar-se.  Restaurar a confiança nestes casos é fundamental, requer recuperação e tempo, pois agora o bebé sente-se mais inseguro e "desconfiado" e logo mais resistente ao acto de dormir.

Desenvolver a confiança do bebé é um trabalho contínuo e deve começar desde o primeiro dia. Deve ser articulada funcionalmente com numa rotina adequada à idade e peso do bebé, para permitir uma leitura mais clara das reais causas de choro e sinais deste. Ensinar a dormir pressupõe igualmente conhecer as causas das dificuldades e do choro e resolvê-las na sua raiz em vez de simplesmente aplicar o modelo “deixar chorar”.




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