sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Subestimar o potencial de aprendizagem do bebé pode arruinar o seu sono

Felizmente a maior parte dos pais que me procuram sabem que os bebés estão, desde que nascem, altamente predispostos a aprender e que toda a sua recente vivência é aprendizagem. O que os pais podem precisar de aprofundar é que, sendo uma condição humana, esta deve ser vista como uma capacidade a potenciar em benefício do próprio bebé e do seu próprio bem-estar.


O seu cérebro absorve naturalmente toda a informação da nova vida, deste “novo mundo”. No entanto, toda esta vivência, toda esta informação é adequada ao seu nível de experiência, conhecimento e expetativa, que naturalmente ainda é limitado.


Na prática da aprendizagem nesta fase da vida, tal como em qualquer idade, o processo é otimizado pela repetição. No entanto, os resultados da aprendizagem pela repetição só serão potenciados caso se façam acompanhar de consistência, congruência, clareza de eventos e numa base lógica de adequação funcional face às necessidades e capacidade reais do bebé.


Acontece passar um pouco despercebido aos pais estas astutas aptidões de aprendizagem. Ocorre muitas vezes uma desconexão entre aquilo que os pais acham que o bebé aprendeu e aquilo que de facto estão a ensinar inadvertidamente. É comum que os pais nem cheguem a ter consciência que ensinaram algo indesejado e que está a comprometer algo importante, atribuindo algumas razões às “manhas”. Claro que nunca o fazem conscientes disso. Isto apenas acontece quando, sem qualquer intenção, se ignora que o bebé está aprender absolutamente tudo. Os momentos de convívio, o tipo de respostas ao choro, posturas, soluções para cada reação/estado do bebé, estão a ser alvo de absorção e associação pelo próprio bebé. É assim que ele desenvolve o encadeamento do seu mapa mental e de todos os conceitos em desenvolvimento.


Por exemplo, quando um bebé chora, independentemente da razão, ele estará muito atento ao momento em que voltará a sentir-se bem depois do choro. Além das razões do choro, ele estará mais atento à solução usada. Torna-se justo, por isso, que se facilite a sua organização causa-efeito para uma harmoniosa e justa construção do mapa mental de conceitos. Deste modo é possível nivelar o que é justo o bebé poder esperar. Esta adequação de expectativa evita a intensificação dos períodos de choro.


Não sendo exclusivo, é curiosamente no campo do sono do bebé, onde se verifica a maior desconexão entre aquilo que os pais esperam que o bebé saiba fazer e aquilo que de facto o ensinaram a fazer, ainda que com a melhor intenção.


Se por exemplo um bebé mamar imediatamente antes de dormir antes de cada sesta e antes de ir dormir à noite (de forma padronizada e continuada) ainda que durante o dia isso não evidencie aparentemente um grande problema, ao longo do tempo dará razões para começar a revelar-se um problema durante a noite. A associação direta de leitinho/mama ao sono, continua no a ser dos hábitos mais difíceis de gerir pelos pais no período da noite. Sabendo que o sono não é contínuo, e caso o bebé não tenha aprendido a adormecer de outro modo durante o dia, é justo que sempre que desperte, e não consiga re-adormecer imediatamente, venha a apresentar desconforto pelo cansaço de não estar a dormir, mas também porque espera a sua solução “pré-sono”, neste caso: leitinho/mama.


Existem variadíssimos exemplos como este, mas todos eles de uma maneira ou de outra descuram o potencial de aprendizagem do bebé.


Reforçando a informação de que os bebés quando estão cansados/com sono choram, independentemente do local (no colo, no berço, etc.), é importante que os pais possam lembrar que persistir numa qualquer solução para acalmar nesta circunstância, mesmo para além do bebé estar calmo, é associado por este, como “a solução para dormir”. O bebé está sempre a aprender. Ensinar o bebé a dormir, neste caso pressupõe parar de acalmar antes do bebé adormecer - e nessa altura coloca-lo no berço, calmo mas acordado. 


Melhor que acalmar um bebé para dormir é mesmo ensinar o bebé a acalmar (em vez de apenas o acalmar). Mas ensinar a acalmar passa também por compreender quais as possibilidades que o bebé teria de o fazer por si com os seus próprios recursos, a curto, médio e longo prazo.


Como exemplo, se para dormir só se oferecer colo para acalmar o bebé, é normal que ele não podendo fazê-lo sozinho, espere por esse colo milagroso para acalmar e voltar a dormir, chamando por ele sempre que sinta necessidade, especialmente porque não sabe readormecer doutro modo. A “solução colo” para acalmar o choro do bebé não é só usado no momento de dormir. É popular que para qualquer razão de choro os pais ofereçam o colo como primeira solução. E como o bebé está sempre a “absorver”, ele vai associar que para se sentir bem, quando chora, precisa de colo. Haverá uma altura que o bebé terá razões para não se sentir seguro em mais lado nenhum, e o berço venha a ganhar “picos”.


Aprender a acalmar é das aprendizagens mais importantes que o bebé faz para toda a sua estrutura emocional. É igualmente, o melhor caminho para ensinar um bebé a desenvolver a sua capacidade de adormecer e readormecer. Mas ensinar a acalmar não pressupõe invariavelmente colo, porque na verdade o bebé aprende a acalmar onde lhe for dada a oportunidade repetida. Por questões de desconforto derivado do cansaço, o bebé muitas vezes entra numa espiral de choro e da qual não sabe sair, por não saber controlar-se física e emocionalmente. É comum alguns pais acharem que este choro possa ser o bebé “a lutar contra o sono” (outro mito). Normalmente derivado desta espiral é que se iniciam os hábitos indesejados para dormir, pois os Pais já estão capazes de qualquer loucura para que o bebé se acalme e durma (ou pior acabe mesmo ali a sesta). No entanto, caso sejam dadas condições, o autocontrolo desenvolve-se ao se ensinar a acalmar. E o bebé aprende e desenvolve essa capacidade desde cedo. (Curiosamente, é preciso autocontrolo e paciência dos pais para o ensinar). Abanar um bebé para se acalme é uma ilusão. Na verdade, só se está a distrair o bebé com o movimento “do mundo a abanar” e não ensina o autocontrolo. Pode no entanto, adormecer o bebé - e assim se perde mais uma oportunidade de aprendizagem protetora do sono.


Usar apenas soluções físicas ao longo do desenvolvimento do bebé, como solução para acalmar para que ele possa conciliar o sono de forma tranquila e autónoma é de louvar, pois não é adormecer de forma induzida o bebé, dando-lhe a ele a oportunidade de melhorar essa aptidão. Todavia pode ser redutor, combinando a dimensão do seu potencial de aprendizagem e o tempo que ainda tem pela frente.


Um bebé pode aprender a acalmar-se apenas com o tom e mensagem da Mãe (/cuidador), caso seja usado um tom calmo e tranquilizante e excluindo a fome e a dor (que existindo farão com que seja difícil que durma). Só não é tão comum observar-se tal fenómeno porque ao se desconhecerem as reais razões de choro, os pais começam desde cedo por persistir, de forma padronizada, em acalmar o bebé através de respostas/soluções físicas - como embalo, trepidação, mama, chucha entre outros.


Ensinar a acalmar fortalece o espirito, aprofunda o laço de confiança com os pais e a autoconfiança do próprio bebé. Para ser desenvolvido precisa que se compreenda o potencial de sintonia que o bebé pode desenvolver desde cedo com os pais e mais uma vez reconhecer que de pequenos só têm mesmo o tamanho. A sua capacidade de aprender é enorme!


O sono tem “as costas largas” e subestimar o potencial de aprendizagem com o qual os bebés humanos nascem, atrapalha pequenas e valiosas conquistas nas suas próprias autonomias básicas - como dormir.


Felizmente, tudo isto é passível ser desenvolvido adequadamente por qualquer Mãe ou Pai de forma quotidiana. A par do seu indispensável amor e paciência, ao conhecer e tornar as medidas adequadas num hábito, os frutos são altamente gratificantes para o descanso e qualidade de vida de todos.




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