sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Adormecer sozinho: Os riscos enquanto ingrediente isolado!



O bom sono não passa apenas por “ensinar a adormecer sozinho”. É uma chave capacitante fundamental. No entanto, fator critico de sucesso de um bom sono( qualitativo e contínuo) hoje e amanhã, é a integrada construção de uma relação equilibrada, com tempo de qualidade para a relação, nos momentos acordados.


O processo de crescimento do Ser Humano nunca se dissocia de Aprendizagem- é inerente! Não é opcional! É absolutamente necessário que se respeite o bebé, como ser único e especial, como Pessoa, numa fase que em especial nos 12 primeiros meses, tem o maior número de sinapses do que qualquer outra fase da vida!


Nesse sentido é importante acolher o bebé, observá-lo, conhecê-lo, mas não esquecer o fundamental papel de guia dos Pais, até no reconhecimento da definição das suas necessidades, com Amor, Resiliência e Respeito! É preciso dignificá-lo enquanto SER que tem a habilidade de aprender (porque tem), de se estruturar a cada dia que vive, reforçando as suas competências com dedicação que só o Amor permite e inspira. Isto desvia uma eventual tendência desequilibrada de se considerar um bebé mera extensão do corpo da Mãe, ou como mero pertence seu.


Uma forte relação de confiança que respeite as necessidades físicas e emocionais do bebé, permitirá uma regulação mútua, que estimula a sua noção de segurança, o reconhecimento de onde vive e como define os seus sentimentos. Desenvolvida com uma base de respeito e até justiça, poderá promover um adormecer e readormecer mais tranquilo e regular, sem a contínua expectativa frustrada da presença de recursos externos dos quais não controla quando adormece. Acima de tudo recursos de que não pode dispôr em toda a continuidade do sono (em muitos casos, por insustentabilidade de resposta continuada por parte dos próprios pais, perante a chegada de novos irmãos, ou mesmo quando a criança ficar com outras pessoas).




Começando como não se deseja continuar, e não tendo assim uma visão em perspetiva da qualidade da relação e do Vinculo a médio e longo prazo, poderá não se dignificar a capacidade do bebé em se preparar gradualmente nesse sentido, a fim de evitar choque e frustração. Dessa forma estar-se-á à mercê de repetidas desilusões do próprio bebé na hora de dormir, mas também da qualidade da relação, insegurança enraizada, difícil e muitas vezes impossível de manter, perante o contexto do que foi dado ao bebé, na base da vida, no seu processo primário de estruturação.


Este tema poderá ser algo controverso quando não aprofundado em todas as suas vertentes de influencia e efeito, mas o meu trabalho dedicado no campo, ao longo de vários anos, tem chegado a resultados e evidências (que organizo num estudo) que demonstram que o estabelecimento de uma base segura para o bebé/relação de confiança (teoria de vinculação Bowlby), de uma forma integrada, ou seja,  não apenas construída no momento exclusivo de adormecer, não só protegerá o sono saudável sem colocar em risco a sua vida emocional, como fortalece a sua relação de confiança com os pais. Afinal a verdade é que todos precisam de dormir e descansar….E dependente disso está também toda a qualidade de experiências que os pais podem dar aos seus filhos no inicio da sua vida, ou seja nos seus alicerces –  pois se cumulativamente cansados, os Pais não conseguem ser melhores pais, e continuamente privados de bom sono, os bebés não percecionam a vida da mesma maneira, nem se desenvolvem da mesma maneira.


Ao construir-se a relação de uma forma sólida estruturada e equilibrada ( com tempos para tudo), alicerça-se assim a confiança do bebé nos pais e no mundo (perceção segura do mundo envolvente, meta-corpo dos pais), de que pode contar com eles quando precisa, nas suas dificuldades de crescimento, e ter mimo voluntário e não apenas quando precisa de dormir. Assim poderá ser ensinada e enraizada a perceção de segurança interna, mesmo quando os pais estão fora do seu campo de visão ou de perceção física, temporárias- quando trabalham, vão à casa de banho, ou mesmo quando vão dormir. Caso se dê o benefício de uma preparação ajustada gradual e respeitante das necessidades físicas e emocionais em formação, o bebé está mais protegido e fortalecido emocionalmente para encarar o afastamento normal (não me refiro ao afastamento abandónico ou de negligencia). 


Poderá ser complicado para algumas vertentes do pensamento compreender o impacto, mas há que assumir que quando o bebé nasce; está cá para fora, e como tal, justo é ser gradualmente preparado e fortalecido de segurança em relação ao mundo exterior. È importante fazê-lo de forma progressiva e não, ser continuamente dada a percepção de que a segurança vem apenas da aproximação ao corpo do qual já se separou ao nascer, em regressão física….Pois poderá haver um ponto, que mais junto aos pais não poderá estar, só mesmo voltando para o útero….Algo impossível. Isto é algo que constato em alguns casos de co-sleeping que me procuram….O bebé/criança já não pode estar mais próximo dos pais, no entanto a insegurança em relação ao sono( mas não só) ditou a regra de co-sleeping. Mesmo assim, o bebé, depois do contacto físico, contínua inseguro e acorda várias vezes, pois o vinculo e noção de segurança foi apenas alavancada através da proximidade física.


Em diferença, os Pais podem assumir um papel de segurança e coerência organizada,  que não falham nas maiores dificuldades e necessidades, e estimam o seu ser em desenvolvimento e o vinculo da relação. Estas demonstrações continuadas em vários como tantos momentos, permitem um campo de perceções e associações ao bebé, limpo no campo do sono, para dormir de forma mais autónoma, tranquila e com uma enraizada e genuína noção de segurança em relação ao meio envolvente.


De forma apoiada não só no trabalho como nos estudos de entidades altamente qualificadas e dedicadas ao longo já de décadas, como do meu próprio trabalho e estudo confirmo que para os bebés, UMA DAS causas que enraízam no médio e longo prazo o seu despertar nocturno, é o facto de se ter consolidado (ainda que muitas vezes de forma acidental) a aprendizagem de ser adormecido ou readormecido, ou seja, induzido no sono através de acções alheias à prática física e interna dos seus mecanismos próprios- e não sejam assim apresentadas sequer, como uma escolha acompanhada e continuada num processo resiliente, paciente e estruturado, de quem ama hoje e amanhã - Valorizando assim um dos processos mais importantes do fortalecimento da qualidade de experiências enquanto acordado- o bom sono. 


No entanto, não sendo fácil toda a dedicação envolvida para aceitar que todo o processo de crescimento/aprendizagem não é mecânico e matemático e necessita de DISPONIBILIDADE e empenho (para se conhecer), para conquistas prolongadas e qualitativas neste campo, muitos Pais escolherão encontrar, ou recorrer a outras correntes que justifiquem aplicação de soluções de curto prazo, "indução do adormecer" através seja de ingestão, embalo etc, sendo escolhas e capacidades dos pais devidamente respeitáveis e que não devem ser julgadas, sequer moralmente, pois estes são os absolutos responsáveis pela sua noção/visão de convivência e crescimento a curto médio e longo prazo, não só do bebé como da própria família.


Perante todas as evidências de que poderão comprometer o hábito de sono contínuo e profundamente reparador, enraizado desde cedo, bem como das evidências que podem comprometer a pré-disposição do bebé e depois criança para dormir, a verdade é que jamais deverá ser julgado tanto o conhecimento, como crença, capacidade ou mesmo tempo disponível dos Pais para o alcance INTEGRADO do “bom sono”....Pois bom sono, reforço, não se resume em apenas ensinar o bebé adormecer sozinho...Quem assim acreditar, partirá de uma base incompleta e perigosamente insuficiente/incorrecta,  a revelar-se numa desilusão perfeitamente desnecessária.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Causas que incentivam e enraízam o despertar na madrugada - Parte III:Conciliar o sono de forma demasiado dependente



Quando os Pais adormecem o seu bebé, é bom que possam saber que quem adormece, efectivamente, é o bebé! Adormecer é uma acção e prática pessoal e intransmissível! Mesmo que os pais sejam membros activos na condução da conciliação do sono dos seus filhos. esta conquista por parte do bebé poderá fortalecer o seu conhecimento e autonomia, neste campo!
Mesmo que aos seus olhos pareça pouco tempo para se enraizarem conhecimentos e hábitos, os poucos meses de vida do bebé, são tudo o que ele tem de experiência e conhecimento! Se apenas e exclusivamente consolidar a aprendizagem de ser adormecido, ou seja, induzido no sono através de acções alheias à prática física e interna dos seus mecanismos próprios, é normal que venha a apresentar pouca facilidade em adormecer e principalmente, em readormecer. Irá instalar-se uma genuína necessidade (e não uma manha como se gosta de acreditar de forma popular), construída com base nessas referências ou expectativas.
É típico que no início, os pais se possam esquecer da importância de orientar e regular o bebé, canalizando a sua energia para tentar perceber o que se passa e agindo por reacção em vez de pro-acção. É uma atitude normal e importante de conhecimento, mas quando levada ao extremo, inverte a ordem natural de quem de facto precisa de ser orientado neste novo contexto. Ao invés de acolher as suas acções/reacções, e atribuir-lhes significado, os pais podem manter por demasiado tempo a resposta de curto prazo no atendimento às necessidades do bebé. Isso gera inadvertidamente um dos hábitos mais comprometedores da educação e que se manifesta deste muito cedo, no sono. Mas no fundo, e sem intenção disso, estes Pais dedicados, iniciam algo que não desejam prolongar, e, quando muitas vezes assumem que poderá haver um problema, é comum que certos maus hábitos no sono já estejam discretamente enraizados.
Exemplos como adormecer ao colo, com embalo, toque (festinhas, palmadinhas), companhia, à “mama” ou biberon, carrinhos de passeio, ou mesmo uma combinação baralhada de todas estas possibilidades, são algumas soluções de induzir o sono e soluções de curto prazo, que dão, inevitavelmente, uma percepção ao bebé, de que para dormir, qualquer um destes recursos pode ser necessário, e que destes está dependente! No entanto, são todos métodos de adormecer que não podem ser, na sua maioria, mantidos na duração ideal do sono ou crescimento do bebé, incentivando assim o estado de alerta para dormir, e a demarcação do despertar.
Porque serão então estas soluções para adormecer, causa do despertar à noite?
Se são estas as únicas “soluções” que o bebé reconhece e pratica para conciliar o sono, as mesmas agem também como um “incentivo” ao seu demarcar de despertar na noite. O sono é feito por ciclos de 45 minutos, e cada ciclo no seu fim (e início) é feito de fases de sono leve, onde o bebé pode despertar muito facilmente. Nem sempre o despertar é demarcado com choro (e aí muitas vezes os pais nem sabem se o bebé acordou ou não), mas caso o bebé interiorize que o processo de readormecer precisa de mais meios dos que este poderá accionar autonomamente, tenderá inevitavelmente a manifestar-se por hábito e nessa expectativa. Ou seja, em vez de simplesmente suspirar e entrar num novo ciclo, o bebé esperará algo, manifestando essa expectativa (e mais tarde manifestando uma genuína necessidade de segurança) através de choro.  
Não se pode esperar que o bebé saiba reconhecer que precisa de dormir, mesmo que seja a meio da noite, pois ele é naturalmente interessado por tudo o que lhe for oferecido, independentemente das horas. Caso as soluções oferecidas para adormecer ou readormecer, possam evitar que pratique o seu mecanismo interno de adormecer, ou venham mesmo inadvertidamente a agir como estimulantes e interessantes acontecimentos àquela hora, poderá ser complicado voltar a readquirir a calma necessária para readormecer rapidamente. Isso é algo que se confirma ser comum, quando a “metodologia” para pôr a dormir utilizada pelos pais, passa por “embalar com movimento”, uso de luz, deslocar de ambientes (por exemplo ir do quarto para a sala, passar para o carrinho, ou mesmo sair do berço para a cama dos pais, etc).
Nestas circunstâncias, à medida que o bebé cresce, poderá desenvolver e associar insegurança face ao local berço durante a noite (pois associa que quando tem dificuldade e chora, tem de sair imediatamente dali, como solução para o problema), poderão também intensificar-se as ocorrências de choro e aparente luta para dormir, sempre na mesma circunstância. Com a idade, e o aumento da consciência do bebé, é comum que as consequências de o adormecer em exclusiva dependência, em vez de o ensinar a dormir de forma despojada de expectativas e necessidades criadas artificialmente, tornem o sono cada vez mais difícil.
Observo, em variadíssimos casos, que é típico o bebé deixar de querer adormecer, em especial a partir dos 9 meses( combinando com fase típica de “ansiedade normal de separação”, num contexto histórico de sono dependente. Esta situação tende a piorar nesta fase, pois o bebé não se sente seguro no processo de dormir, consciencializando cada vez mais da dependência de companhia para o fazer. Percebe também, que quando adormece perde a noção do que está acontecer à sua volta, e que a “solução” que o deixa seguro para adormecer em primeira instância (companhia, toque, colo, etc.) não é constante e controlável, pois pode sair dali a qualquer momento, em especial quando ele não dá conta( pois adormeceu entretanto). É como se pairasse para o bebé a mensagem no ar: “o sono não é de se fiar, pois coisas importantes e incorrectas podem acontecer!”
Caso estas “metodologias” de adormecer e readormecer o bebé, consideradas de “curto prazo”, não sejam identificadas, isoladas das outras variáveis (que demarcam e enraízam o despertar e apresentadas no conjunto deste artigo “base”) e assim resolvidas, poderão, mês após mês, vir a enraizar-se igualmente no relógio biológico do bebé. Estas interrupções do sono impedem não só o descanso da família, como dificultam de forma padronizada o aprofundamento das fases de sono profundo, podendo arrastar-se para idades seguintes. O bebé poderá ficar “internamente programado para acordar”, e isto, simplesmente, porque sempre o fez, noite após noite, desde que se conhece. No entanto, mesmo estando os pais conscientes destas consequências, poderão sentir que não têm outra escolha senão aplicar o que sempre fizeram e viram fazer, experimentar de tudo um pouco, administrar fármacos, ou simplesmente esperar que passe com a idade e com o poder da “sorte”.
O processo de crescimento do Ser Humano nunca se dissocia de Aprendizagem e como tal, poderá não ser justo esperar-se de um filho, mesmo que de um bebé se trate, capacidades, conquistas e aprendizagens, quando estas não foram ensinadas de forma continuada e persistida, com Amor e resiliência! Para ensinar é preciso dar a oportunidade continuada de prática, combinada com uma rotina, e uma forte relação de confiança que respeite, e reforço, respeite as necessidades físicas e emocionais do bebé (sempre ajustadas à sua idade e peso). Para tal, medidas em prevenção podem e devem ser desenvolvidas, e tem sido esse o meu trabalho aprofundado no campo, ao longo de vários anos com resultados que poderão facilmente comprovar a teoria exposta.
Uma forte barreira ao ensino ou intervenção precoce neste sentido, fora de um quadro patológico, é a tendência dos pais, levados pela avaliação do tamanho físico (pequenez física), considerarem uma noção de incapacidade e incompreensão por parte do bebé, e que este poderá não estar preparado para lidar com o sono. No entanto, é importante que saiba que o bebé, nunca estará preparado para estas aprendizagens básicas, caso não se dê essa oportunidade orientada e continuada. No fundo, adormecer constantemente um bebé, é inadvertidamente, privá-lo de se preparar, aprender a lidar, fortalecer e melhorar a sua vivência neste campo, com uma verdade expectável e desejável para o seu próprio bem, normal e segura ao longo do seu crescimento. Quanto desde mais cedo se começar essa preparação, mais natural, menor desilusão, choque ou sofrimento para o bebé, e melhores hábitos de sono protegido e profundo. Em suma, sono qualitativo e contínuo enraizado por mais tempo.
Ao não se ensinar o bebé, todos os dias, a sentir-se seguro para conciliar o seu sono de forma gradualmente mais autónoma, está a privar-se o bebé não só de aprender a adormecer, como a readormecer, sempre que necessário, de uma forma simples, descomplicada, rápida e tranquila. Este “exercício” é apoiado por estudos, e resultado de inúmeras observações, como sendo uma aprendizagem fundamental para o sono mais qualitativo do bebé. Sem esquecer que o “sono do bebé” é a matriz para um bom desenvolvimento, e que a sua qualidade influencia também o bem-estar enquanto acordado, promovendo as melhores experiências e percepções, nos alicerces da sua vida Humana.
Para muitos pais, isto será algo que consideram muito difícil, mas garanto que não dará mais trabalho do que adormecer continuamente um bebé ao longo do seu desenvolvimento, e deixar, pela força do acaso, que certas conquistas se dêem, e certos problemas de sono interrompido cessem, quando já acumulados com outras questões. É preciso considerar capaz! É preciso ensinar! Para ensinar é preciso conhecer, e para conhecer é preciso trabalhar uma relação de confiança, em especial com vidas recentes a descobrir e a tomar parte da formação.
É bom frisar, que sendo um aspecto crucial, o trabalho de promover  e proteger o  bom sono do bebé, ou criança, ao longo do seu desenvolvimento, começando desde cedo, não se centra apenas na aprendizagem do seu adormecer autónomo como o passaporte exclusivo para que durma bem hoje e amanhã. Em alguns casos, apenas este aspecto mostrar-se-á incompleto para o objectivo do sono contínuo e qualitativo, sendo por isso sempre necessário a coordenação com outras medidas e campos relevantes do seu desenvolvimento. Mas, o “adormecer sozinho” será um dos mais importantes factores de sucesso para o bom sono, e em muitos casos, “a cereja no topo do bolo”