quinta-feira, 27 de março de 2014

Co-sleeping: Sim, Não ou Nim?

O co-sleeping é defendido por muitos como sendo a fórmula que transmite a maior segurança ao bebé e à criança. É defendido por seguidores do “método contínuo” que afirma, de forma lata, que o bebé após o nascimento deve continuar como extensão do corpo da mãe, para minimizar o trauma do nascimento (a primeira separação física). O “método contínuo” poderá entrar em eventual ruptura em famílias que o apliquem sem profundo conhecimento das suas implicações, à medida que o bebé cresce, numa sociedade, que sendo boa ou má, é aquela em que vivemos.

Por vezes, os Pais sentem um deslumbre por metodologias que os aproximam de vivências mais naturalistas, algumas mesmo de índole tribal, pela sua proximidade ao desejo idílico de vida (perfeitamente desejável e compreensível) começando hábitos que na prática não podem, ou não conseguem, sustentar - seja porque terão de regressar ao trabalho sem os filhos, seja assumindo a necessidade de ter momentos sós, enquanto adultos e casal, etc.). O desequilíbrio e “desilusão” para bebés e Pais pode dar-se aqui mesmo.

É justo que para a noção de segurança emocional do bebé, os pais possam aproximar aquilo que começam a dar “hoje”, àquilo que planeiam conseguir manter, no mínimo, no futuro próximo (em especial, seja quando a criança tiver um irmão, for para a creche, ou um dia para a escola). É bastante compreensível que se o bebé aprender que só é seguro dormir com a Mãe/Pai, apenas com eles se sinta confiante assim, ou no mínimo em companhia - esperando essa companhia para o total número de horas que durma. Se os pais não estão certos que querem que o seu bebé aprenda apenas a sentir-se seguro em “extensão “ do corpo da Mãe, à medida que cresce, deverão “jogar pelo seguro” relativamente à proteção das emoções do bebé.

É necessário o entendimento dos pais que o mimo, a atenção, e o Amor indispensáveis, não são movimentos exclusivos apenas do momento de dormir. O Amor a compreensão, a atenção e mimo, devem estar presentes em todas as expressões da educação e em todos os momentos da relação sob variadas formas em respeito do contexto, todos os dias e durante o seu crescimento. Um bebé não é mais amado que outro porque passa o dia inteiro ao colo dos pais, ou dorme com os pais. Amar um filho é querer o melhor para ele hoje e sempre, e não apenas no próprio minuto. Mas se os pais apenas conseguem garantir o apoio e a estruturação emocional através da proximidade física, por exemplo durante a noite de sono - seja porque não têm outro tempo de contacto, seja porque não sabem como fortalecer esse pilar no dia-a-dia, para além do momento de ir dormir - talvez o co-sleeping seja uma ferramenta importante (e talvez indispensável) para que a criança não cresça emocionalmente negligenciada. Cada família saberá gerir as suas prioridades, possibilidades e o equilíbrio destas.

Os pais devem sempre decidir com consciência e perspectiva, como desejam o sono de “amanhã” para poderem planear e estruturar esse ensino e começá-lo cedo na vida do bebé, com coerência:  

- Se desejam dormir de hoje em diante sempre com o bebé e depois criança, devendo permitir que seja a própria criança a decidir quando quer deixar de o fazer: doutro modo poderá sentir-se “despromovida” por razões que não compreende - o que poderá afetar o laço de confiança com os pais.
Ou
- Se preferem ensinar um padrão de sono em que o bebé aprende a sentir se seguro para adormecer e dormir de forma autónoma na sua cama, visto ser onde os pais esperam que ele venha a dormir bem e seguro, todos as noites, daqui para a frente – o que pode ter como excepção (normalmente bem aceite) dormir com os pais em dias especiais ou de pontual necessidade.

É muito relevante traçar a “rota” escolhida. Acima de tudo esta decisão consciente vai ajudar a prevenir uma tendência aleatória de respostas ao bebé – quando os pais experimentam, de forma não consistente, várias alternativas para perceber o que funciona melhor, pois a aleatoriedade e o “experimentalismo” são algumas das causas de insegurança no bebé.


 CO-SLEEPING PLANEADO - Os Pais decidem conscientemente praticar co-sleeping com o bebé, desde que nasce, durante toda a noite, todas as noites daí para a frente.

Prós:

- Constância: Por ser planeado vai ser uma resposta coerente por parte dos pais, e por isso não tem variações: o bebé sente-se seguro e aprende o que esperar, sendo deste modo correspondido.
- Coerência: O bebé pode ser adormecido com toque e companhia que caso desperte está em companhia, sem esforço para os pais.
- Amamentação cómoda e prática.
- Temperatura: controla-se melhor.
- O bebé poderá conseguir consolidar o seu sono nocturno contínuo: Caso o co-sleeping seja mantido o tempo necessário até o bebé/criança não ter dependência de mamar ou chuchar na mama para readormecer (caso o fizesse).

Contras:

- Sestas: Pode influenciar negativamente a duração, qualidade e distribuição das sestas (o sono diurno tem muita importância para o sono da noite do bebé) pois à noite os pais estão a dormir, mas durante o dia nem sempre querem ou podem fazê-lo.
- Desmame noturno tardio: O bebé poderá mamar durante a madrugada de forma padronizada até muito tarde, atrasando a regulação dos ritmos de alimentação, ficando habituado por mais tempo a precisar de alimentar-se durante a madrugada. Essa é uma das causas do enraizamento de despertares (impeditivos do sono contínuo).
- Descontrolo da amamentação: O bebé mama, mas também faz do movimento de mamar a sua chucha para readormecer.
- Desequilíbrio dos ritmos de alimentação: O mais saudável será a alimentação ser gradualmente optimizada e melhorada através dos hábitos de alimentação durante o dia, e não uma tendência de compensação de fome à noite.
- Intimidade dos Pais: Impossibilita ou dificulta os movimentos dos pais enquanto casal, restringindo o espaço físico e a sua intimidade.
- Quais as causas do mau sono? O bebé pode dormir mal despertando a chorar, deixando os pais baralhados. Os Pais podem ter dificuldade em avaliar as reais causas do choro.
- Desconforto físico para os pais: Os bebés não têm noção da posição para dormir e podem ser incómodos para os pais - é comum os pais queixarem-se por acordar com pernas, braços e rabos na sua cara, e mesmo com o bebé a dormir bem, são os pais que não dormem tão bem.
- Transição para berço e quarto: Pode atrasar, dificultar ou mesmo impossibilitar uma tranquila transição para o seu quarto e cama.
- Falsa expectativa da hora de ir dormir: O bebé poderá crescer com a noção que vai dormir quando toda a gente em casa, também vai. Quando começar a desconfiar que não é assim, pode ser difícil que durma.


CO-SLEEPING ACIDENTAL: Quando os Pais não o desejaram nem o planearam mas, em busca de uma solução para o bebé dormir bem, experimentaram e correu bem, no entanto, os pais não desejam esse padrão.

Prós:
- Poderá ser solução para o bebé dormir a meio da noite, numa noite difícil (no entanto, poderá ser solução de curto prazo).

Contras:
Além dos mencionados no co-sleeping planeado;
- Intensifica uma atitude regressiva por parte do bebé, neste caso para dormir.
- Incoerência para as expectativas do bebé - O bebé rapidamente aprende que a solução para se sentir seguro quando chora é estar a dormir com os pais, no entanto os pais todos os dias tentam adormece-lo e deitá-lo no berço, pelo menos no início da noite, e quando o bebé dá por isso já se encontra no berço sozinho.
- Incentivo para o bebé acordar: Inadvertido incentivo para o bebé despertar e demarcar o seu acordar todas a noites, chamando os pais ou chorando, na expectativa da nova solução para dormir àquela hora.
- Muito tempo para readormecer: O bebé poderá ter dificuldade em acalmar-se e readormecer por estar baralhado. Não sabe se é seguro dormir ali ou o melhor é mesmo ir para a cama dos pais. Mais crescidos poderão chorar pela expectativa de ir para a cama dos pais, até se concretizar, leve o tempo que levar, torna-se uma necessidade genuína.
- Intensifica a insegurança - O bebé poderá sentir-se muito inseguro para tudo o que se passe longe do corpo da mãe/pai, em especial para um acto na qual ele deixa de controlar - quando adormece - a falta de padrão ensinou-lhe que ele é posto no seu berço para dormir, mas se acordar e tiver muita dificuldade em readormecer, então a solução passa por estar fora daquele berço, mais precisamente, na cama com os pais. O bebé poderá construir uma percepção de que, quando as coisas ficam difíceis a meio da noite, só será possível resolvê-las junto ao corpo dos pais, e ele esperará por isso - o seu berço passa a ser um local pouco confortável à sua perceção.


CO-NO-SLEEPING - Quando o co-sleeping não funciona para ninguém
O bebé dorme com os Pais, que começaram a usar o co-sleeping como solução para um problema enraizado de mau sono (sem avaliar todas as variáveis), e o bebé depois de um tempo a dormir melhor volta novamente a dormir mal, despertando e chorando. Mas já se encontra a dormir padronizadamente na cama dos pais.

Quando se chega ao co-sleeping acidental como solução para o bebé dormir, tipicamente este poderá transforma-se num Co-no-sleeping e não funcionar para ninguém. Normalmente é sinal que já se tentou de tudo para que o bebé dormisse a noite toda sem interrupções demarcadas com choro e desconforto. Depois de tantas tentativas com soluções diferentes (ao colo, no berço, na cama dos pais, etc.), o bebé está muito baralhado, inseguro e desconfiado, para dormir.

A recuperação de uma situação que se encontra no fim da linha para os Pais, como o do Co-no-sleeping é um caminho que passa, não só por ensinar a dormir, mas também por um processo de recuperação de confiança do bebé, cujas noções de segurança e expectativas poderão estar completamente baralhadas, juntamente com as causas iniciais do mau sono, ainda por resolver. Quando um bebé mês após mês continua a não padronizar o sono contínuo noturno, as causas devem ser analisadas para que não agravem.

Por norma, todos os bebés adormecidos ao colo ou em companhia, tendem a sentir necessidade dessa mesma companhia para readormecer caso despertem a meio da noite. Muitas vezes os pais não planearam fazer co-sleeping, mas inadvertidamente, ao não ensinarem os seus bebés a conciliarem o seu sono de forma autónoma, através de um plano estruturado ao longo dos seus primeiros 12 meses, acabam por dar ao bebé razões para acordar/“chamar” por eles as vezes necessárias para readormecer - pois é a forma que conhecem para adormecer (excluindo causas que advêm da rotina diurna desajustada, ou mesmo mau e pouco sono diurno, para a idade). Se os Pais, por cansaço, experimentaram pôr o bebé a dormir com eles, possivelmente poderá ter acontecido que este tenha dormido lindamente. Se o bebé foi adormecido durante doze meses ao colo, com toque e/ou companhia, ele foi preparado e ensinado para dormir com os pais.

É também normal que, quando já não dormir na “cama de grades”, o bebé/criança tenda a ir para a cama dos pais pelo seu próprio pé, todas as noites. Se ele não se sente seguro a dormir sozinho na sua caminha, não aprendeu a fazê-lo ao longo do seu crescimento, irá sempre seguir o ímpeto cada vez mais consciente - “tenho medo de estar sozinho” e procurar a cama dos Pais. Mesmo crianças que enquanto bebés foram ensinadas de forma estruturada e consolidada a adormecer autonomamente e no momento adequado passados para o seu quarto, poderão tentar em certas fases ir para a cama dos pais. Caberá aos pais adequar a “resposta”, sabendo que esta poderá atenuar ou acentuar essa tendência.


O co-sleeping é um prazer para todos quando não é fruto de uma “não escolha”. Para ser uma escolha, é preciso consolidar um padrão, idealmente que promova o melhor sono, desde cedo - para todos e por todos.


A influência do comportamento dos pais na educação dos filhos. Artigo com a Psicóloga Ana Amaro Trindade

A nossa vivência atual acelerada orienta-nos para a procura rápida, e com pouco esforço, de resultados. O que se espera da educação não foge à tendência. Cada vez mais, surgem soluções para resolver as dificuldades que os pais vão sentindo ao educar os filhos, mas poucas apontam para a influência central na educação: as pessoas que os pais são e como se comportam. Procuram-se estratégias isoladas para lidar com a questão X ou Y, foca-se o “problema” na criança e nunca no comportamento dos pais. Torna-se fundamental consciencializar os pais da importância que têm junto dos filhos. É no dia a dia, nas pequenas coisas a que não damos valor, que o mais importante acontece.

O impacto da postura e do comportamento dos pais nos seus filhos começa enquanto estes ainda são bebés. É comum achar-se que, por serem muito pequenos, os bebés não nos compreendem ou não prestam atenção ao que dizemos e à forma como o dizemos, mas isso não é verdade. Os bebés estão muito atentos ao comportamento dos pais. Observam como estes reagem no dia-a-dia, mas também como respondem ao seu choro e ao seu desconforto. É através desta observação e através da “sintonização” com a forma de sentir e de reagir dos pais, que os bebés organizam o seu mundo interno.

Se um bebé está a chorar, espera dos pais uma resposta que lhe alivie o desconforto. Se os pais não mantêm uma postura de tranquilidade, se eles próprios se descontrolam (na respiração que fica acelerada, no tom e no volume da voz, fazendo movimentos bruscos), o bebé terá tendência a sentir-se mais inseguro. Se os pais espelham o desconforto do bebé, estão a intensificá-lo e o bebé não aprende novas formas de reagir nem de lidar com o mal-estar. Transmitir calma pressupõe, da parte dos pais, uma respiração desacelerada, movimentos firmes e lentos e uma postura confiante, combinada com uma comunicação simples e pausada de quem acredita no que propõe. O bebé poderá aprender a acalmar-se sintonizando com o estado de calma dos pais, se estes comportamentos forem demonstrados de forma congruente.

Também as crianças estão muito atentas à postura e ao comportamento dos pais. O exemplo que os pais dão é fundamental na educação e na formação do carácter dos filhos. A aprendizagem de valores é feita por observação – por verem o que os pais e adultos à sua volta fazem, as decisões que tomam e os caminhos que escolhem. É no dia a dia, através do próprio comportamento dos pais, que se ensina o respeito, a compaixão e empatia com os outros, mas também a honestidade e a coragem. Devemos mostrar que tentamos dar sempre o nosso melhor, não só para termos bons resultados, mas também pelo bem dos outros à nossa volta. A importância que damos aos aspetos materiais tem também impacto na formação do carácter da criança – se atribuímos valor às pessoas pelo que possuem, a criança aprenderá a fazer o mesmo. Deve-se ensinar a distinguir aquilo de que precisamos daquilo que queremos, tal como a distinguir o que as pessoas são daquilo que têm.

As histórias que contamos às crianças têm também um grande impacto na aprendizagem de valores, pois, para além de muitas vezes apresentarem uma “moral”, as crianças aprendem com os comportamentos das personagens. Os pais devem discutir as histórias com as crianças, pedindo-lhes que pensem nos valores transmitidos pelas histórias: Porque é que as personagens se comportaram assim? Tinham bons motivos? As decisões foram boas? Como ultrapassaram obstáculos? Quem eram os heróis e porquê? A história acabou bem - bem para quem?

Devemos ainda apresentar às crianças aquilo que esperamos delas em determinada situação e os valores que queremos que respeitem de forma clara, sendo consistentes - se um determinado comportamento não é aceitável, então não é aceitável nunca, e não apenas quando os pais não estão cansados e se sentem com disposição para serem persistentes. As regras devem estar bem definidas, bem como as consequências do seu incumprimento. No entanto, é fundamental que os pais também as cumpram - não serve de muito os pais castigarem a criança porque grita, se eles mesmos, facilmente, levantam a voz quando estão irritados; ou não autorizarem a criança a levantar-se da mesa antes de acabar de comer, se eles próprios se levantam constantemente para atender o telefone.


Nada tem mais impacto na educação de uma criança do que o comportamento dos pais. Muito mais importante do que o que os pais dizem que se deve fazer, é o que os pais mostram que se deve fazer. As palavras são importantes, mas as ações são mais. Devemos mostrar que, enquanto pais, aquilo que exigimos é aquilo em que acreditamos e que, por isso mesmo, vivemos dessa forma.


Luta contra o sono: O que fazer?

Como vimos no artigo anterior (“Lutar contra o sono”: Toda a verdade (parte 1), os bebés, quando estão cansados e aproximando-se a hora ideal de irem dormir, manifestam sinais de sono que, se forem ignorados (mesmo que inadvertidamente) conduzirão a um cansaço excessivo, acumulado, que não permitirá ao bebé acalmar-se e adormecer facilmente. É também comum que os Pais, se o bebé não conseguir simplesmente dormir, comecem a experimentar várias soluções (menos adequadas) para o bebé adormecer – criando desde cedo hábitos que comprometem o sono mais cedo ou mais tarde.

Vejamos então o que podemos fazer para evitar que o bebé chegue a um ponto de exaustão e entre numa espiral de choro, situação que, embora podendo parecer uma “luta contra o sono" é na verdade uma forma desesperada de o bebé nos dizer que está exausto e incapaz de tomar controlo sobre a suas emoções e movimentos físicos:

O que fazer?

- Oriente o bebé numa rotina ajustada, de acordo com a sua idade e peso: apenas desta forma se torna possível atingir os objetivos que se resumo de seguida, sendo fundamentais para evitar que o bebé chegue a um ponto crítico de exaustão, onde tudo se torna mais difícil - nomeadamente capacitar o bebé no desenvolvimento dos mecanismos internos de conciliação do seu próprio sono.

Controle o nível e o tempo de estimulação de atividade/brincadeira. Neste ponto, é importante que estas sejam ajustadas à idade do bebé, à sua capacidade de apreensão. Proteja o bebé da exposição a ecrãs luminosos, em especial TV.  Como se avalia estes tempos? Observando a sua linguagem física (como o grau de agitação física) e contexto de choro (Já são horas de o bebé comer? Está há muito tempo acordado? Está há muito tempo numa atividade que o agita muito, etc...)

Conheça os timings da sua resistência acordado (embora existam guidelines padronizadas relativamente ao tempo que um bebé deve, ou consegue, permanecer acordado, de acordo com a idade, tratam-se apenas da média, por observações, cada bebé é diferente e ocorrem sempre pequenas variações individuais (Influenciadas também pelo nº de semanas do parto, peso e temperamento do bebé).

Aqui ficam algumas diretrizes (análise de observações naturalistas):

Recém nascido a 6 semanas: o bebé poderá conseguir estar entre 5 a 15 minutos sem mostrar sinais de sono (Devendo dormir de seguida) - após mamar. É comum que nem a mamar consigam persistir acordados, enquanto recém nascidos. Converse com o bebé que adormece enquanto mama, para que possa desde já aprender a diferenciar períodos de alimentação e sono.

6 - 12 semanas: O bebé já consegue ficar acordado entre 15 minutos a 30 minutos sem mostrar sinais de sono ou mesmo sem dormir, no entanto cuidado com a estimulação excessiva para a idade. Não deve ficar debaixo de um mobile muito estimulante por mais de 10 minutos. Para além dos imprescindíveis mimos lembre-se que o para o bebé, observar o mundo, a mãe a fazer as suas coisas, ou mesmo o espaço onde se encontra, são atividades interessantes nesta idade e respeitadoras da sua capacidade de processamento.

3 - 5 meses: o bebé já consegue ficar acordado 1h a 1h20 aproximadamente, incluindo a refeição. (Ele poderá brincar sozinho entre 15 a 20 minutos até mostrar sinais de sono, quando deve começar um ritual de acalmar e deixá-lo descansado a dormir no berço.)

6 - 9 meses: O bebé poderá conseguir ficar acordado entre 1h30 a 2 horas, incluindo as refeições. (Caso tenha sido ensinado a sentir-se seguro para tal, poderá conseguir brincar sozinho por 30 minutos.)

9 - 12 meses: o bebé poderá conseguir estar sem sinais de sono, a brincar, entre 2h a 3h30. (Caso os Pais não se tenham tornado a única fonte de entretenimento, e caso tenham exercitado o “músculo emocional”, ensinando o bebé a explorar e a sentir seguro para o fazer também longe do colo e da constante presença ao longo do primeiro ano de vida, o bebé conseguirá sentir-se emocionalmente seguro para se entreter-se/brincar por si, por 30 minutos a 45 minutos.) 

Reconheça e interprete os sinais de sono e de desgaste, tais como: bocejar, esfregar os olhos ou tentativa de esfregar a cara, “encaracolar” no colo, mexer na orelha, agitação descontrolada dos membros inferiores e superiores ( Em especial em bebés de poucos meses), desconcentração em bebé maiores (como não pararem quietos, quererem tudo e nada em concreto, e simplesmente não conseguirem estar na mesma posição etc.).

- Aja aos primeiros sinais de sono, conduzindo o bebé para umritual que promova a redução dos estímulos (reduzir movimento, volume, som, luz), de forma calma e gradual. Idealmente sempre de forma igual, para poder ser facilmente reconhecível/apreensível pelo bebé. Tal, implicará naturalmente, uma redução de energia por parte da mãe/pai pois, apenas desta forma, poderá transmitir ao bebé o estado de espírito necessário para percorrer o caminho para adormecer serenamente. Sendo essa a aprendizagem mais importante para o bebé. Os bebés sintonizam-se com os pais (através da sua resposta aos estímulos). (saiba mais no artigo “Ensinar a acalmar”).

- No caso dos bebés de poucos meses (até aproximadamente 3M) e em especial com bebés que sofrem de refluxo, será benéfico enrolá-los numa manta (técnica de swaddling), e incluir tal ação no ritual de acalmar (na medida em que ajuda primeiro o bebé a acalmar-se mais rapidamente e, depois, a diminuir o impacto dos espasmos, típicos da fase de sono leve, que fazem, muitas vezes, com que o bebé se assuste e desperte novamente e volte agitar-se fisicamente - antes mesmo de ter entrado em sono mais profundo, que acontece por volta dos 25-30 minutos após adormecer).

Para evitar (ou sair da) espiral de choro, deve prevenir que os braços do bebé andem descontroladamente à solta. Este comportamento de descontrolo físico, além de poder magoá-los, aumenta ainda mais a tensão e o desconforto do bebé, na medida em que aumenta também a aceleração cardíaca e respiratória. Será benéfico “ouvir” o seu choro (desabafo) para o compreender e eventualmente aplicar a solução física de palmadinhas ocas e ritmadas nas suas costas acompanhadas de “shhhh” (os bebés até aos 4 meses não se conseguem concentrar em mais de 3 coisas ao mesmo tempo e, como tal, pararão de chorar com esta técnica).

Limite o estímulo visual, se necessário, limitando o campo visual. Mesmo quando estão cansados, normalmente os bebés não têm noção de quando devem fechar os olhos de forma a abstraírem-se do ambiente e adormecerem, em especial bebés de temperamento energético ou mesmo irritável (leia mais sobre o mito de ensinar a dormir com luz)

- Compreenda que quando o bebé está cansado pode chorar (acompanhado) em qualquer lugar, seja ao colo, seja no berço. Todavia, se o adormecer ao colo, depois terá necessariamente que o colocar no berço sem que ele se aperceba da mudança, caso contrário, naturalmente, reclamará, chorando e, por fim, despertando novamente. É sempre preferível deixar claro à percepção do bebé o que é que realmente vai acontecer, ofereça-lhe a verdade, de forma a fortalecer a relação de confiança. Certamente, tal será muito mais fácil para bebés que ainda não tenham enraizado hábitos indesejados para adormecer, nomeadamente até aos 4/5 meses, idade após a qual será tendencialmente mais exigente a tarefa (dependendo do temperamento do bebé), podendo requerer estratégias mais estruturadas, uma maior persistência diária e focus por parte dos Pais, para uma (aparentemente simples) mudança de hábitos.

Mantenha a calma se o bebé começar a chorar. Lembre-se de que está cansado, ainda não está a dormir e é normal que manifeste desconforto, afinal ele tem direito a descontrolar-se - ainda está a aprender a controlar-se. Ele esperará de si uma postura de quem controla a situação e que em quem pode confiar.

Fale de forma suave, apaziguante e positiva. Aprofunde a sintonia, e habitue-o a conectar-se com algumas palavras/expressões chave bem como à respiração, que possam influenciar a calma. Não use o tom de “coitadinho” nem o da comiseração, ele irá sentir-se sem soluções emocionais para além de chorar.

Não abane o bebé pois estará, não só a transmitir ainda mais estímulo visual e físico, como a ensinar ao bebé um comportamento padrão para adormecer, que o bebé por si mesmo não consegue reproduzir; ele verá o “mundo aos pulos” e sentirá “borboletas no estômago”, o que poderá apenas calar-lhe momentaneamente o choro, na medida em que o distrai. No entanto, se pensarmos bem, esta é uma postura antagónica: dar “pulos” para dormir não é certamente o comportamento que no futuro espera do seu filho para se acalmar e dormir e nem que ele consiga fazer enquanto bebé. Se não tem lógica e não é uma solução viável a longo prazo então não continue. Ele ficará agitado, e só irá parar de chorar quando já estiver a dormir, ou seja, vai adormece-lo invariavelmente - sendo esse um hábito comprometedor do sono (leia mais no artigo: ensinar um bebé a dormir: trabalho que compensa todos Vs adormecer um bebé: trabalho que desgasta todos)

Quando são perpetrados hábitos desadequados em acalmarpara dormir, aumenta a probabilidade de o bebé despertar ainda na primeira fase do sono (o sono R.E.M., também conhecida como fase de sono leve). Nestas circunstâncias, o bebé poderá chorar novamente por ter despertado ainda numa fase leve do sono, e é até normal que chore mais, na medida em que o seu processo de adormecer não o levou ainda ao sono profundo. O adormecer poderá não ter sido tranquilo e poderá ter-se dado já num limiar de exaustão.

Ninguém espera, nem deseja, uma total independência do bebé, no entanto é extremamente benéfico capacitar o bebé de pequenas conquistas ao nível da estruturação emocional e até física, pois influenciam grandemente o seu potencial de desenvolvimento e sua noção de segurança.

Para melhor conhecer o bebé e os seus sinais (nomeadamente os sinais de sono, tão importantes, como foi explicado), torno a referir que é extremamente benéfica a orientação numa rotina diária ajustada à sua idade e peso - rotina essa que assegure adequados intervalos entre refeições, a distribuição e duração do sono diurno e noturno, e o tempo destinado à atividade; associada a comportamentos por parte dos pais quereforcem o laço de confiança. Sem isto, pode tornar-se difícil perceber as razões do choro, em especial nos primeiros tempos de vida, podendo os pais, inadvertidamente, responder de forma descontextualizada (e subjetiva) à real necessidade do bebé- dificultando também a tarefa do bebé na organização estrutural das suas próprias expetativas.

Ajudar o bebé a aprender a controlar o corpo e as emoções é imprescindível para que este aprenda a sentir-se bem na sua recente vida e melhora a sua aptidão em acalmar-se e a adormecer, cada vez melhor. Conseguir conduzir os filhos nesta aprendizagem, ao longo do seu desenvolvimento, é algo que só se conquista através de uma prática adequada às características do bebé, persistida e repetida, tornada num (bom) hábito e mantida como rota ajustando à fase de desenvolvimento, através de uma rotina adequada. Os resultados sentem-se igualmente na qualidade de vida dos pais, mas o maior beneficiado é sem dúvida o bebé!