A nossa vivência
atual acelerada orienta-nos para a
procura rápida, e com pouco esforço, de resultados. O que se espera da educação não foge à tendência. Cada vez
mais, surgem soluções para resolver as dificuldades que os pais vão sentindo ao
educar os filhos, mas poucas apontam para a
influência central na educação: as pessoas que os pais são e como se comportam.
Procuram-se estratégias isoladas para lidar com a questão X ou Y, foca-se o “problema” na criança e nunca no
comportamento dos pais. Torna-se fundamental consciencializar os pais da
importância que têm junto dos filhos. É no dia a dia, nas pequenas coisas a que
não damos valor, que o mais importante acontece.
O impacto da
postura e do comportamento dos pais nos seus filhos começa enquanto estes ainda são bebés. É comum achar-se que, por
serem muito pequenos, os bebés não nos compreendem ou não prestam atenção ao
que dizemos e à forma como o dizemos, mas isso não é verdade. Os bebés estão
muito atentos ao comportamento dos pais. Observam
como estes reagem no dia-a-dia, mas também como respondem ao seu choro e ao seu
desconforto. É através desta observação e através da “sintonização” com a
forma de sentir e de reagir dos pais, que os bebés organizam o seu mundo
interno.
Se um bebé está
a chorar, espera dos pais uma resposta que lhe alivie o desconforto. Se os pais
não mantêm uma postura de tranquilidade, se eles próprios se descontrolam (na
respiração que fica acelerada, no tom e no volume da voz, fazendo movimentos
bruscos), o bebé terá tendência a sentir-se mais inseguro. Se os pais espelham o desconforto do bebé, estão a
intensificá-lo e o bebé não aprende novas formas de reagir nem de lidar com o mal-estar.
Transmitir calma pressupõe, da parte dos pais, uma respiração desacelerada,
movimentos firmes e lentos e uma postura confiante, combinada com uma
comunicação simples e pausada de quem acredita no que propõe. O bebé poderá
aprender a acalmar-se sintonizando
com o estado de calma dos pais, se estes comportamentos forem demonstrados de
forma congruente.
Também as crianças estão muito atentas à
postura e ao comportamento dos pais. O exemplo que os pais dão é fundamental na
educação e na formação do carácter dos filhos. A aprendizagem de valores é feita por observação – por verem o que
os pais e adultos à sua volta fazem, as decisões que tomam e os caminhos que
escolhem. É no dia a dia, através do
próprio comportamento dos pais, que se ensina o respeito, a compaixão e empatia
com os outros, mas também a honestidade e a coragem. Devemos mostrar que
tentamos dar sempre o nosso melhor, não só para termos bons resultados, mas
também pelo bem dos outros à nossa volta. A importância que damos aos aspetos
materiais tem também impacto na formação do carácter da criança – se atribuímos
valor às pessoas pelo que possuem, a criança aprenderá a fazer o mesmo. Deve-se
ensinar a distinguir aquilo de que precisamos
daquilo que queremos, tal como a
distinguir o que as pessoas são daquilo
que têm.
As histórias que contamos às crianças têm também
um grande impacto na aprendizagem de
valores, pois, para além de muitas vezes apresentarem uma “moral”, as
crianças aprendem com os comportamentos das personagens. Os pais devem discutir
as histórias com as crianças, pedindo-lhes que pensem nos valores transmitidos
pelas histórias: Porque é que as personagens se comportaram assim? Tinham bons
motivos? As decisões foram boas? Como ultrapassaram obstáculos? Quem eram os
heróis e porquê? A história acabou bem - bem para quem?
Devemos ainda apresentar
às crianças aquilo que esperamos delas em determinada situação e os valores que
queremos que respeitem de forma clara, sendo consistentes - se um
determinado comportamento não é aceitável, então não é aceitável nunca, e
não apenas quando os pais não estão cansados e se sentem com disposição para
serem persistentes. As regras devem
estar bem definidas, bem como as consequências do seu incumprimento. No
entanto, é fundamental que os pais
também as cumpram - não serve de muito os pais castigarem a criança porque
grita, se eles mesmos, facilmente, levantam a voz quando estão irritados; ou
não autorizarem a criança a levantar-se da mesa antes de acabar de comer, se
eles próprios se levantam constantemente para atender o telefone.
Nada tem mais impacto na educação de uma
criança do que o comportamento dos
pais. Muito mais importante do que o que os pais dizem que se deve fazer, é
o que os pais mostram que se deve
fazer. As palavras são importantes, mas
as ações são mais. Devemos mostrar que, enquanto pais, aquilo que exigimos
é aquilo em que acreditamos e que, por isso mesmo, vivemos dessa forma.
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