Bebés adormecidos dormem em
média menos e pior que bebés que foram ensinados a dormir de forma autónoma,
assim confirma o estudo feito em 2006 pela American
Sleep Foundation, mas uma simples observação naturalista o confirmaria
facilmente.
Ensinar
um bebé a dormir e adormece-lo pressupõe capacitações do bebé muito diferentes.
É como a diferença que provém de ensinar a pescar ou simplesmente oferecer
peixe. Certamente oferecerem-nos um peixe é mais simpático - Mas não será bom
sabermos pescar? Para o bem-estar do bebé é essencial que saiba adormecer
autonomamente, pois isso irá proteger e promover a qualidade e duração do sono,
tal como a noção de segurança do bebé, no presente e a médio/longo prazo.
Um bebé adormecido ao colo aprende que para dormir
precisa de estar ao colo, ou seja, fora do berço, e
junto do corpo de alguém para dormir. No entanto, os pais raramente pretendem
ou planeiam que venha a dormir toda a duração das sestas ou durante toda a
noite, ao seu colo. Normalmente todos os bebés adormecidos ao colo vão para o
berço depois de adormecerem. Não será de espantar, que o bebé com o tempo
desenvolva razões para demarcar a passagem de ciclos circadianos (ciclo de sono
de um bebé que dura aproximadamente 45 minutos), despertando e chorando. Inevitavelmente ao acordar, confirma aquilo
que suspeitava - fora ali parar sem dar conta, enquanto dormia. Pode parecer
algo com pouca importância para o nosso entendimento enquanto adultos, mas para
um bebé, é algo que na base, não faz sentido.
Essa
mudança de local fá-los na maior parte das vezes sentir algo não muito fiável
aconteceu enquanto dormiam, e suscita-lhes
uma noção de insegurança em relação ao sono. Essa noção que vão colhendo
sesta após sesta, será razão que baste para diminuírem a duração do seu sono. O
bebé em vez de saber perfeitamente o que esperar, estará constantemente a
certificar-se se sua solução para dormir - o colo - ainda se encontra ali,
motivando-o a “chamar” pelo que conhecem como “o suposto” para dormir.
Não existe
mal nenhum em adormecer um bebé ao colo enquanto este é recém-nascido, por
exemplo, ou se a decisão corresponder a uma deliberação ponderada por parte dos
pais (com consciência a longo prazo), no sentido de deixar a criança decidir
quando quer deixar de ser adormecida, e especialmente que possa ser continuada
na própria duração suposta do sono.
No entanto, inadvertidamente é comum os pais,
neste capítulo, começarem como não
desejam continuar. Os bebés crescem, ganham peso, e raramente os pais
desejam continuar a adormece-los. Mas será justo mudar as regras do jogo sem
preparar o bebé para tal? Como o bebé poderá sentir-se seguro e aceitar dormir
de outro modo? Mesmo que no início possa resultar muito bem, adormecer um bebé, a partir de certa altura
torna-se inviável. O bebé não deve ser adormecido pelas seguintes razões
fundamentais:
- A
(inevitável) alteração não é justa
para o bebé: Os pais podem fazê-lo sem a noção de que não se pode continuar com
esse modo de dormir no futuro, seja quando o bebé for mais pesado, ou quando a mãe
voltar a trabalhar e o bebé for para a creche, ou a mãe quiser ir dormir na sua
cama sem o bebé.
- Dá ao bebé
razões justas para despertar. Ele foi
ensinado que para adormecer precisava de algo mais, neste exemplo, do colo
- mas também se aplica o ser amamentado para adormecer, uso de movimento, carrinho,
ir para a sala, etc. Sempre que der conta que essa solução não está ali, ele
terá razões para chorar/chamar por elas.
- Intensifica a sua noção de insegurança:
O bebé precisa de perceber a sequência e fiabilidade de tudo, especialmente de
algo que o faz deixar de ver o que acontece - como dormir. Sempre que são
adormecidos, por exemplo ao colo, normalmente acordam sozinhos no berço, ou
outro local, e tendencialmente choram porque percebem que algo importante já
não está ali, e algo não está correcto para dormir, tal como foram aprendendo. Choram, especialmente se ainda estiverem
com sono. Ao chorarem os pais voltam novamente a tirá-los do berço, normalmente
com um “pronto” - que é como quem
diz, “sim é verdade, isso aí não é bom,
eis a solução: aqui no meu colo para te acalmares e poderes dormir”) e readormece-o,
reforçando-lhe as vezes que forem necessárias que a solução para se acalmarem e
dormirem não passa pelo berço. Daí vem uma observação muito comum: “o berço tem picos”.
É
importante que os pais possam planear "fazer hoje, como desejam
continuar". Dessa congruência de “metodologia” depende também a confiança
do bebé nos próprios pais e na sua imagem do mundo. Deste planeamento evitam-se
situações comprometedoras do sono para pais e filhos.
Se o bebé só
sabe adormecer ao colo (ou através de outra qualquer dependência), significa
que foi assim ensinado, ainda que involuntariamente. Mudar isso pressupõe
uma igual mudança de regras de jogo, que ainda que necessárias, por serem mais
justas, vão beneficiar de planeamento, de dedicação, e medidas específicas
ajustadas para evitar uma quebra de confiança ou mesmo uma intensificação de
insegurança do bebé – sob pena de agravar a situação, caso não sejam bem avaliadas.
Quando os Pais
comentam que já tentaram de tudo, é certo que o bebé já estará ainda mais inseguro e cada vez mais a cada mudança
para uma medida experimental. Ao não se persistir com nenhuma medida até ao
fim, é normal que o bebé não tenha tempo para aprender nenhuma, e a constante mudança das regras do jogo
intensifica inevitavelmente a insegurança do bebé.
As rotinas
estudadas e desenvolvidas por especialistas na área comportamental do sono
quando bem desenvolvidas e implementadas,
viabilizam a sistematização de rituais
que ensinam os bebés a fazer importantes conquistas no campo do sono, mas
também no auto-controlo. Fortalecem o laço de confiança com os Pais e têm
também outros benefícios em outros campos importantes na vida do bebé (como a
alimentação e os períodos de actividade). Promovem o sono de qualidade, de
distribuição ajustada e a continuidade suposta para cada idade. No entanto,
devem ser sugeridas a partir do maior número de informação possível da situação
e devem ser personalizadas, pois todos os bebés são diferentes (além da idade,
peso, temperamento) e todos os contextos são diferentes também. Ensinar um bebé a dormir que ainda não tem
hábitos indesejados é muito diferente de resolver um problema de hábitos enraizados,
especialmente quando há necessidade de uma recuperação
de confiança (quando o bebé já foi alvo de uma série de experimentações na
esperança que melhorasse). Mudar é possível, pois os bebés têm um grande potencial
de aprendizagem, habituam-se, seja ao melhor para eles mesmos, seja ao pior.
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