quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Sono: fazer hoje como deseja continuar amanhã


Bebés adormecidos dormem em média menos e pior que bebés que foram ensinados a dormir de forma autónoma, assim confirma o estudo feito em 2006 pela American Sleep Foundation, mas uma simples observação naturalista o confirmaria facilmente.

Ensinar um bebé a dormir e adormece-lo pressupõe capacitações do bebé muito diferentes. É como a diferença que provém de ensinar a pescar ou simplesmente oferecer peixe. Certamente oferecerem-nos um peixe é mais simpático - Mas não será bom sabermos pescar? Para o bem-estar do bebé é essencial que saiba adormecer autonomamente, pois isso irá proteger e promover a qualidade e duração do sono, tal como a noção de segurança do bebé, no presente e a médio/longo prazo.

Um bebé adormecido ao colo aprende que para dormir precisa de estar ao colo, ou seja, fora do berço, e junto do corpo de alguém para dormir. No entanto, os pais raramente pretendem ou planeiam que venha a dormir toda a duração das sestas ou durante toda a noite, ao seu colo. Normalmente todos os bebés adormecidos ao colo vão para o berço depois de adormecerem. Não será de espantar, que o bebé com o tempo desenvolva razões para demarcar a passagem de ciclos circadianos (ciclo de sono de um bebé que dura aproximadamente 45 minutos), despertando e chorando. Inevitavelmente ao acordar, confirma aquilo que suspeitava - fora ali parar sem dar conta, enquanto dormia. Pode parecer algo com pouca importância para o nosso entendimento enquanto adultos, mas para um bebé, é algo que na base, não faz sentido.

Essa mudança de local fá-los na maior parte das vezes sentir algo não muito fiável aconteceu enquanto dormiam, e suscita-lhes uma noção de insegurança em relação ao sono. Essa noção que vão colhendo sesta após sesta, será razão que baste para diminuírem a duração do seu sono. O bebé em vez de saber perfeitamente o que esperar, estará constantemente a certificar-se se sua solução para dormir - o colo - ainda se encontra ali, motivando-o a “chamar” pelo que conhecem como “o suposto” para dormir.

Não existe mal nenhum em adormecer um bebé ao colo enquanto este é recém-nascido, por exemplo, ou se a decisão corresponder a uma deliberação ponderada por parte dos pais (com consciência a longo prazo), no sentido de deixar a criança decidir quando quer deixar de ser adormecida, e especialmente que possa ser continuada na própria duração suposta do sono.

 No entanto, inadvertidamente é comum os pais, neste capítulo, começarem como não desejam continuar. Os bebés crescem, ganham peso, e raramente os pais desejam continuar a adormece-los. Mas será justo mudar as regras do jogo sem preparar o bebé para tal? Como o bebé poderá sentir-se seguro e aceitar dormir de outro modo? Mesmo que no início possa resultar muito bem, adormecer um bebé, a partir de certa altura torna-se inviável. O bebé não deve ser adormecido pelas seguintes razões fundamentais:

- A (inevitável) alteração não é justa para o bebé: Os pais podem fazê-lo sem a noção de que não se pode continuar com esse modo de dormir no futuro, seja quando o bebé for mais pesado, ou quando a mãe voltar a trabalhar e o bebé for para a creche, ou a mãe quiser ir dormir na sua cama sem o bebé.

- Dá ao bebé razões justas para despertar. Ele foi ensinado que para adormecer precisava de algo mais, neste exemplo, do colo - mas também se aplica o ser amamentado para adormecer, uso de movimento, carrinho, ir para a sala, etc. Sempre que der conta que essa solução não está ali, ele terá razões para chorar/chamar por elas.

- Intensifica a sua noção de insegurança: O bebé precisa de perceber a sequência e fiabilidade de tudo, especialmente de algo que o faz deixar de ver o que acontece - como dormir. Sempre que são adormecidos, por exemplo ao colo, normalmente acordam sozinhos no berço, ou outro local, e tendencialmente choram porque percebem que algo importante já não está ali, e algo não está correcto para dormir, tal como foram aprendendo. Choram, especialmente se ainda estiverem com sono. Ao chorarem os pais voltam novamente a tirá-los do berço, normalmente com um “pronto” - que é como quem diz, “sim é verdade, isso aí não é bom, eis a solução: aqui no meu colo para te acalmares e poderes dormir”) e readormece-o, reforçando-lhe as vezes que forem necessárias que a solução para se acalmarem e dormirem não passa pelo berço. Daí vem uma observação muito comum: “o berço tem picos”.

É importante que os pais possam planear "fazer hoje, como desejam continuar". Dessa congruência de “metodologia” depende também a confiança do bebé nos próprios pais e na sua imagem do mundo. Deste planeamento evitam-se situações comprometedoras do sono para pais e filhos.

Se o bebé só sabe adormecer ao colo (ou através de outra qualquer dependência), significa que foi assim ensinado, ainda que involuntariamente. Mudar isso pressupõe uma igual mudança de regras de jogo, que ainda que necessárias, por serem mais justas, vão beneficiar de planeamento, de dedicação, e medidas específicas ajustadas para evitar uma quebra de confiança ou mesmo uma intensificação de insegurança do bebé – sob pena de agravar a situação, caso não sejam bem avaliadas.

Quando os Pais comentam que já tentaram de tudo, é certo que o bebé já estará ainda mais inseguro e cada vez mais a cada mudança para uma medida experimental. Ao não se persistir com nenhuma medida até ao fim, é normal que o bebé não tenha tempo para aprender nenhuma, e a constante mudança das regras do jogo intensifica inevitavelmente a insegurança do bebé.

As rotinas estudadas e desenvolvidas por especialistas na área comportamental do sono quando bem desenvolvidas e implementadas, viabilizam a sistematização de rituais que ensinam os bebés a fazer importantes conquistas no campo do sono, mas também no auto-controlo. Fortalecem o laço de confiança com os Pais e têm também outros benefícios em outros campos importantes na vida do bebé (como a alimentação e os períodos de actividade). Promovem o sono de qualidade, de distribuição ajustada e a continuidade suposta para cada idade. No entanto, devem ser sugeridas a partir do maior número de informação possível da situação e devem ser personalizadas, pois todos os bebés são diferentes (além da idade, peso, temperamento) e todos os contextos são diferentes também. Ensinar um bebé a dormir que ainda não tem hábitos indesejados é muito diferente de resolver um problema de hábitos enraizados, especialmente quando há necessidade de uma recuperação de confiança (quando o bebé já foi alvo de uma série de experimentações na esperança que melhorasse). Mudar é possível, pois os bebés têm um grande potencial de aprendizagem, habituam-se, seja ao melhor para eles mesmos, seja ao pior.




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