quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Pesadelos ou Terrores Noturnos? Parte II

Muitos dos pais podem sentir-se confusos sobre o que fazer, ou como reagir para confortar a criança em qualquer uma destas situações. É importante distinguir “sonhos maus” de terrores noturnos, pois estes exigirão, por parte dos pais, formas distintas de acalmar a criança!

Pesadelos

O Pesadelo é uma experiência diferente do terror noturno, pois a criança acorda assustada, após o sonho mau, contando por vezes o que se passou. Ter pesadelos de vez em quando e mesmo fases de maior ocorrência, é normal, no entanto se muito frequentes e continuados, podem ser indicadores de períodos de grande angústia e stress, tal como nos adultos.
Poderá caber aos pais a consciência da eventual necessidade de melhorar ou mudar a qualidade/quantidade das experiências às quais a sua criança está exposta, caso afectem de forma continuada a tranquilidade da criança.

Como lidar?

Devemos tentar tranquilizá-la, explicando que se tratou de um sonho. Por mais pequena que a criança possa ser, é importante semear desde cedo a explicação mais próxima da verdade, a mais congruente: A de que os sonhos, ou pesadelos não são reais, “não acontecem de verdade”.

A presença dos pais é importante para poder explicar que tudo não passou de um sonho mau, demonstrando afeto e acima de tudo, a compreensão dessa “realidade sonhada”.
É importante a criança sentir-se atendida, mas mais do que atendida, é importante que se sinta compreendida.

Dignificar a criança a ponto de merecer uma explicação ( mesmo que não compreenda todas as palavras, compreenderá as palavras chave, e ao ouvi-las por mais de uma vez, estará mais próximo de as compreender mais cedo, caso os pais não as usassem) e assim possa voltar a dormir descansada!

Poderá ser necessário resolver o tema e tranquilizar a criança até nos dias seguintes, reforçando a explicação e exemplificando se necessário, em especial do que é real e o que não é!

Eis um exemplo a evitar, que seria : “ Queridinha não tenhas medo do lobo mau, porque se ele aparecer aí, a Mãe dá-lhe logo com a vassoura, agora volta a dormir querida, sim?!” Esta é só mais uma, das muitas tentativas carinhosas e bem intencionadas de apaziguação, mas que inadvertidamente confirma com a criança dois medos:

1º- A eventualidade da existência do “lobo mau”
2º- A possibilidade de ele poder aparecer ali em casa.

Lembre-se que a racionalização e a lógica, são aprendidas ao longo do desenvolvimento, e por vezes é essencial ser-se criativo também, entrando no mundo imaginário da criança, para que se possa melhor compreender perspectiva da criança. 

No entanto, ao tentar tranquilizá-la, tente avaliar se as suas ideias são tão, ou mais infantis, e se é disso mesmo que a criança precisa para se tranquilizar no seu entendimento do mundo, do que é dado como real ou não real.

As explicações e apaziguações/explicações “surreais”, podem chegar à incongruência, e que se for tornando num (mau) hábito dos pais, poderá pôr em risco o laço de confiança da criança com estes (ainda que discretamente) e agir no efeito oposto pretendido, à medida que esta cresce, e em especial nestes temas.

São em eventos como estes, que mais uma vez, se poderá ver os frutos e a profundidade do laço de confiança da criança com com os pais, em especial sendo este construído continuamente desde cedo, de bebé e depois criança.

Um dos efeitos positivos de um forte laço de confiança, demonstram ter um maior alcance na tranquilização das preocupações e medos da criança, pois esta estará mais permeável à apaziguação dos pais. A criança está habituada a confiar, e daí que nestes casos confiam mais facilmente, ou mesmo cegamente nas palavras destes e como tal estão mais próximas de se sentir genuinamente protegidas e seguras.

Quando o semear destas medidas que promovem o laço de confiança com os pais, é feito desde muito cedo de forma congruente, como um bom hábito, faz com que a depêndencia do contacto físico, para que a criança se sinta segura, não seja a única nem a mais importante ferramenta de apaziguação, ainda que melhore o estado da criança momentaneamente. No entanto, poderá ser incompleta quando dada em exclusivo, por não conseguir ir de encontro à “raíz” daquele “medo”.

Acima da dependência/ligação física para a tranquilização, está a mais profunda necessidade de segurança interna e essa não está apenas ligada ao contacto físico, por exemplo através do exclusivo co-sleeping, mas sim ligada à genuína noção de segurança interna, que se constrõe através de um forte laço de confiança que foi sendo gerando com os pais( e como tal, com o mundo interno e externo.)

Uma criança terá sempre os seus medos e claro, pesadelos, sem eles não seria humana. Ainda que desagradáveis para todos, os pesadelos podem ser também vistos pelos pais, como oportunidades valiosas de poder ensinar a reagir ao medo, poder ensinar a lidar com dificuldades e ensinar a desencadear raciocínios fortalecedores do espírito, imprescindíveis para o crescimento cognitivo e emocional.

Daí que são igualmente uma boa forma de conhecer melhor as preocupações medos, necessidades emocionais e mesmo cognitivas do seu filho.

É bom conhecermos os nossos filhos em todas as fases de crescimento!

O desafio da educação, neste caso, é fazer da aparente "ameaça" do pesadelo, uma "oportunidade" de fortalecer o conhecimento, a relação, e a segurança com o seu filho. Para tal será também benéfico rever hábitos da criança, eventos atípicos e revalorizar as suas brincadeiras.

As brincadeiras das crianças são aprendizagens muito sérias e na qualidade destas estão também ferramentas imprescindíveis para criar um terreno mais tranquilo, positivo e reparador, capazes de aumentar a sua auto-confiança e noção de segurança, face aos medos e aos pesadelos.


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