Os bebés têm mais competências do que se pensa. É
possível ensinar muitas coisas a um bebé, entre elas a acalmar-se e desenvolver
o autocontrolo físico e emocional - aprendizagem fundamental para conseguir adormecer
autonomamente.
O bebé nasce com
diversas competências que se vão desenvolvendo. Sabe-se hoje em dia que a
acuidade visual do bebé recém-nascido é máxima a uma distância de cerca de 20
cm, a que separa o rosto da mãe do bebé quando está a mamar, e que mostra,
desde o nascimento, preferência pela voz da mãe, porque a ouviu enquanto esteve
na barriga. Estas competências, entre outras, facilitam a ligação entre a mãe e
o bebé e promovem o estabelecimento da
relação entre ambos, que é a base da
aprendizagem para o bebé.
No início, o
bebé precisa que a mãe (ou cuidador principal) lhe “filtre” o mundo, pois a primeira forma do bebé pensar é
“sintonizar” com o que a mãe lhe transmite. Os afectos e as emoções
co-constroem-se - é a partilha de afectos na relação mãe-bebé que vai permitir
que o bebé forme a sua vida afectiva e emocional pessoal, como afirma Bernard
Golse, Pedopsiquiatra e Psicanalista. Assim, não é possível pensar na questão
das emoções do bebé sem pensar na interacção que tem com os seus pais. Daí a
importância da postura destes enquanto cuidam do bebé – é transmitindo calma e segurança que o bebé interioriza estas emoções.
De que forma
podem os pais ensinar o seu bebé a acalmar-se autonomamente? Através de medidas
como:
- Ouvir o bebé
quando chora, compreender o desconforto associado ao tipo de choro, para poder
responder de forma adequada, não agindo
por impulso e não se deixando guiar pelas suas próprias emoções –
ansiedade, frustração, etc.;
- Responder ao
mal-estar do bebé de forma previsível,
regular e também lógica. Por exemplo,
se o bebé já se acalmou não faz sentido continuar a dizer que está tudo bem incessantemente. Por outro
lado se o bebé está a chorar não faz sentido imitar o tom do choro;
- Mostrar-se tranquilo, optimista e confiante,
estando atento à expressão facial que transmite e à postural corporal que
demonstra, respirando de forma profunda, calma, fazendo longas inspirações e
expirações, e valorizando o bebé quando imita este comportamento;
- Evitar
perturbar o bebé com movimentos bruscos, agarrando-o de forma confortável e
segura (não abanando);
- Falar-lhe de
forma serena e espaçada. A voz é uma chave importante para acalmar o bebé,
quando o tom favorece a calma. Pode ser um método ainda mais poderoso que
qualquer outra solução física para acalmar.
É importante que
os pais se consciencializem que acalmar
um bebé pressupõe fazê-lo de modo que o bebé não tenha dificuldade em
reproduzir esse comportamento no futuro, caso contrário não estará a
aprender a acalmar-se. Alguns exemplos comuns que não ensinam um bebé a acalmar-se
autonomamente são abanar/embalar/agitar o bebé (vê o mundo aos pulos, o que aumenta
o estímulo visual), ser distraído com um brinquedo, ou pô-lo a ver televisão/iPad/telemóvel.
As nossas
vivências actuais estão a empurrar os pais a usar aparelhos de tecnologia para
substituírem o mais importante. Mal o
bebé nasce já está a ser entregue a estratégias robotizadas de acalmar, que
não passam por um aprofundar da relação, um aprofundar do laço de confiança com
os pais. Usam-se sons digitais, cadeiras trepidantes, imagens luminosas num
iPad ou telemóvel, secadores de cabelo, aspiradores, etc. No entanto, o bebé
não consegue desenvolver a articulação destas estratégias sozinho, e precisa de
saber como se faz para acalmar o batimento cardíaco para conseguir adormecer.
O bebé tem uma
tendência natural para a procura de homeostasia, ou seja, para adquirir
mecanismos de regulação que lhe permitam manter-se num estado isento de
tensões. No entanto, todos os bebés são
diferentes e nem todos se acalmam da mesma maneira ou com a mesma facilidade.
Não existe uma fórmula única que resulte com todos os bebés. Cabe aos pais
descobrirem quais as metodologias que melhor se adaptam aos seus filhos, tendo
em conta as características individuais destes.
Por Ana Amaro Trindade, Psicóloga Clínica
Carolina N. Albino, Especialista em Ritmos de Sono do Bebé
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