quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Filhos pequenos, manhãs apressadas: Será uma missão impossível? Artigo com a Psicóloga Ana Amaro Trindade

Pais e filhos têm necessidades muito diferentes: para os pais é importante não haver atrasos, a higiene e a organização; já os filhos não querem ser apressados, querem apenas aproveitar o momento, divertindo-se. Muitas vezes, estas necessidades tornam-se difíceis de conjugar e dão azo a conflitos logo pela manhã, quando os pais tentam sair de casa rapidamente e os filhos “não colaboram”.

Todas estas questões se resumem ao alinhamento de hábitos - estando os hábitos de sono também envolvidos. Se a criança dorme menos do que precisa durante a noite, o acordar vai ser difícil, com rabugice, sem paciência e, como consequência, a criança vai ter pouca, ou nenhuma vontade de colaborar. Será difícil esperar que uma criança que, desde bebé, tem o hábito de se deitar tarde e dormir menos horas do que necessita, consiga estar bem-disposta e colaborante de manhã cedo. Assim, é importante que antes de se lidar com as manhãs, se lidem com as noites e, de preferência, o quanto antes. Os bons hábitos de sono devem ser ensinados nos primeiros meses de vida e consolidados a partir daí (mas, caso tal não tenha sido feito, nunca é tarde para começar).

Para “colher” boas manhãs, “semeie” boas noites:

- Oriente o seu filho numa rotina com horários ajustados à sua idade - por exemplo, jantar às 21h compromete um horário saudável de sono, e o acordar cedo no dia seguinte. O sono do “serão” (20h-00h) é de extrema importância e promove a qualidade do sono na madrugada, o que, por sua vez, promove o acordar mais funcional no dia seguinte.

- Garanta que o seu filho dorme o suficiente. O número de horas de sono dependente da idade do bebé/criança e deve ser a seguinte, em 24h (incluindo sono noturno e diurno – enquanto há sesta, até aos 4/5 anos):
1 semana- 16 horas
3 meses - 15 horas
9 meses -14 horas
2 anos - 13 horas
3 anos- 12 horas
5 anos - 11 horas
9 anos -10 horas
11 anos - 9 horas
17 anos - 8 horas
(Por R. Ferber)

- Termine o dia de forma tranquila, com bons hábitos, como ler uma história, fazer um resumo positivo das conquistas do dia da criança ou fazendo a previsão das tarefas matinais do dia seguinte.


Top 15 para manhãs tranquilas - algumas dicas práticas para conseguir sair de casa sem atrasos e sem discussões:

1.       Na véspera, prepare a roupa que irão vestir no dia seguinte e deixe-a numa disposição lógica para facilitar a ordem de “entrada”.

2.       Recorra a “lembretes” – faça juntamente com o seu filho desenhos das várias situações que espera que ele faça sozinho de manhã (por exemplo: lavar os dentes, calçar os sapatos, vestir o casaco e pegar na mochila) e afixe numa zona do quarto que ele veja. Ele ficará muito orgulhoso por conseguir ficar pronto sem ninguém lhe dar ordens.

3.       Levante-se primeiro, arranje-se e prepare tudo o que estiver ao seu alcance (pequenos-almoços, lanches para o dia, etc.) antes de acordar as crianças.

4.       Acorde-os (ligeiramente) mais cedo do que necessário para poderem fazer as coisas sem correrias.

5.       Mal acordem, ofereça-lhes o pequeno-almoço. Será mais fácil o funcionamento de manhã com o boost energético (o que tornará a criança menos propensa a birras).

6.       Indique o que pretende numa só palavra (ou da forma mais sucinta possível) em vez de estar com grandes explicações, pois as crianças podem ter mais dificuldades em processar a mensagem toda. Ex: “Pão!” em vez de “Por favor, já te pedi mil vezes para comeres o pão, tens que comer mais rápido se não vamos chegar atrasados e eu já disse que tenho uma reunião importante!”

7.       Use o sentido de humor. Ex: Com uma voz divertida, dizer: “Enfia a cabeça na camisola como se fosses um coelho a espreitar. Boa!” Ou para os mais pequenos enquanto os veste: ”Onde está a mão? Está aqui! Boa, mãozinha!”

8.       Incentive-o a fazer melhor, elogiando (“Tu és ótimo a lavar os dentes, boa!” “Estás a mastigar mesmo bem! Isso mesmo!”)

9.       Valide os sentimentos do seu filho, pois as crianças colaboram melhor se se sentirem compreendidas. Ex: “Compreendo que fiques muito chateado porque querias ver televisão, mas temos que sair para poderes ir brincar com os teus amigos! Será que já estão à tua espera?”

10.   Use a técnica “quando-então” de forma a motivar a criança. Ex: “Quando beberes o leite, então podes ir buscar o brinquedo.”

11.   Evite fazer perguntas. Se perguntar: “Já estás pronto para comer?” Pode obter um “Não!”. Diga apenas: “São horas de comer”.

12.   Deixe a criança tomar algumas decisões, mas ofereça o mínimo de alternativas possíveis para acelerar as escolhas. Ex: Em vez de “Preferes comer pão com manteiga, queijo ou fiambre? Ou cereais? Ou iogurte? Ou papa?” experimente “Papa ou cereais?”

13.   Ajude o seu filho a vestir-se. Quando se está com pressa não é a melhor altura para treinar a independência. Pode calçar uma meia enquanto ele calça a outra, por exemplo.

14.   Se o seu filho fizer uma recusa e antes de começarem numa batalha de poderes, afaste-se, vá tratar de outra coisa e regresse, pois, provavelmente já se distraiu e evitou-se uma “guerra”.

15.   Façam coisas em conjunto como uma equipa (por exemplo, tomarem o pequeno almoço juntos) ou transforme as actividades em jogos (“Eu vou buscar o casaco e tu vais calçar os sapatos e quem chegar primeiro à porta ganha!”)

Não há necessidade de andar a apressar as crianças, pois com criatividade e planeamento é possível que as manhãs decorram sem problemas. Infelizmente, há tantos pais que apenas conseguem estar com os filhos um bocadinho de manhã antes de irem para a escola e à noite quando regressam do trabalho. Não faz sentido desperdiçar o tempo que já é escasso. É fundamental que pais e os filhos possam aproveitar os momentos que passam juntos.




Luta contra o sono: toda a verdade

O bebé quando está cansado emite sinais de sono, tais como, bocejar, esfregar os olhos, tentar mexer na cara, na orelha, descontrolo dos movimentos, etc. Terão escapado à observação dos pais estes sinais se o bebé já estiver a chorar de cansaço. Estes sinais de sono informam-nos que a “janela de sono” do bebé “está aberta”, sendo este o momento ideal para o bebé ser orientado num ritual de acalmar e ir dormir, de forma a evitar um grande descontrolo por parte do bebé.

Caso, inadvertidamente, se estimule muito o bebé dentro desta janela de sono (seja com agitação, brincadeiras, velocidade de movimentos, volume alto, gesticulação dos pais, muita luz, ou simplesmente tempo acordado etc.), estando ele já cansado, estes estímulos farão o bebé consumir mais rapidamente energia, fazendo-o ir do cansaço à exaustão em menos tempo. A exaustão num bebé apresenta-se como um total descontrolo dos movimentos inferiores e superiores o que o acelera para o choro. O bebé esbraceja, chora e não adormece, isto tudo porque ficou demasiado cansado antes mesmo de ter conseguido adormecer. Depois de entrar nesta espiral de choro, torna-se difícil conseguir sair dela, iniciando-se nesta altura o “ vale tudo” nos esforços dos pais para que o bebé durma, e o início dos hábitos comprometedores do sono.

De onde vem a ideia da luta contra o sono?

Os bebés não andam a organizar nenhum movimento revolucionário contra o sono. É importante que fique claro que o bebé não nasce com nenhuma opinião negativa acerca do sono, não tem razões para não gostar de dormir (pelo contrário!), apesar de esta ser uma ideia dominante no senso comum. No entanto, caso não sejam incutidos os hábitos mais adequados neste campo, caso o bebé seja privado da aprendizagem e consolidado na aprendizagem de adormecer autonomamente e de acalmar através de rituais proprios, sendo adormecido por indução ou com companhia de forma padronizada, é normal que com o passar do tempo se vá sentindo cada vez mais inseguro em relação ao sono. Uma coisa leva a outra e por ouvir os pais a afirmar que ele “não gosta de dormir”, será natural que o bebé, mais tarde criança, possa crescer com a ideia de que não gosta de dormir e se sinta inseguro para o fazer.

A ideia da “luta contra o sono” vem quando os pais observam que mesmo cheio de sono, no acto de ir dormir, o bebé agita-se fisicamente e chora ao mesmo tempo. Além de não se acalmar, não adormece e quando adormece, acorda passado muito pouco tempo, voltando tipicamente a chorar e a esbracejar ou a mexer-se, a sentar-se, a rebolar ou levantar-se (de acordo com a fase de desenvolvimento em que se encontra) - dando essa falsa noção de que não querer dormir, a falsa ideia de poderá estar a “lutar” contra o sono.( e isto excluindo outras razões de insegurança em bebés com idades mais próximas dos 7 meses e depois)

O que acontece é fácil de compreender:

Um bebé cansado é um bebé com sono. Um bebé com sono é um bebé que precisa de ir dormir, logicamente. Para dormir é preciso adormecer primeiro, e para adormecer é preciso que a respiração e o batimento cardíaco desacelere, ou seja, para adormecer é preciso que o bebé esteja calmo (nós adultos também precisamos de estar calmos para adormecer). Mas quanto mais cansado o bebé está, mais energia consome e mais cansado fica. Quanto mais cansado fica, mais descontrolado fisicamente, e o que se vê é um bebé a esbracejar que não fica quieto, chora e não adormece. Isso é apenas o bebé a “expressar” a sua dificuldade em gerir aquilo que o seu cérebro já não tem capacidade de processar devido à exaustão.  Para isto pode contribuir igualmente o bebé não viver uma rotina padronizada que no momento de desgaste ainda o fará ter mais razões de não saber o que esperar. Mas mesmo que adormeça por segundos é importante perceber que o bebé também precisa, e como tal não se deve perder a calma e desistir, caso não consiga fazê-lo profundamente logo nas primeiras tentativas. Ele está todos os dias a aprender a gerir o auto-controlo necessário para adormecer e quanto mais cansado for, maior é a fasquia de dificuldade. É preciso compreender e dar oportunidade, não desistindo que durma- Ele precisa.

Se num bebé de poucos meses falamos de “esbracejar” e choro quando está cansado, num bebé mais crescido, que não tenha sido ensinado a mudar de ritmo e adormecer autonomamente e não tenha esse hábito, o descontrolo físico pode passar por não parar quieto ao ponto de levar muito tempo para adormecer (ou os pais chegarem mesmo a pensar de tudo), parecendo desorientado e sem rumo. É por isso normal que mesmo precisando desesperadamente de dormir, possa apresentar uma grande dificuldade em acalmar e adormecer. OU caso já tenha enraizado maus hábitos não consiga mesmo fazê-lo piorando a cada momento de exaustão. A luta contra o sono não é então uma vontade consciente de não adormecer por parte de um recente bebé, mas sim uma dificuldade deste em conseguir fazê-lo.

Especialmente em bebés pequenos o seu descontrolo físico (derivado do cansaço) faz com que sacudam os braços (muitas vezes chegam a bater neles mesmos o que agrava mais o choro) e as pernas. O coração, para fornecer oxigénio aos músculos, bate mais depressa e a respiração acelera. Em pouco tempo o bebé está muito agitado e se ainda não está, num minuto começa a chorar. Ele só estava muito cansado, mas de repente ficou exausto. Este bebé irá ter acrescida dificuldade em adormecer a cada momento que passa nesta exaustão.

Após sair desta espiral,isto se tiver sorte de conseguir um minuto de calma e abstração aos estímulos, o bebé adormece. Ou talvez não porque algo o pode manter acordado: Será o movimento? O som? A luz? Aquela coisa estranha brilhante a piscar? Será uma música de berço que não deixa? Ou os Pais que entretanto o distrairam com outra coisa estimulante mais associada a brincadeira, disistindo que dormisse? Neste ultimo caso, o bebé irá sair da janela de sono, porque ainda que cansados os bebés sentem-se naturalmente interessados na “actividade”. Mas o “Sol terá pouca “dura” e em pouco tempo, voltará a chorar… e poderá ser à mínima coisa, recorrentemente cada momento a mais que o seu cérebro e corpo não for descansar. Por isso um bebé que não dorme o que precisa, torna-se muito exigente e mesmo desgastante, elevando a um pradão perigosamente excessivo para a sua capacidade, de constante estimulação e distracção por parte dos pais para que não chore. Esse padrão só por si, irá dificultar a capacidade de acalmar do bebé , actuará como numa “bola de neve” de agitação que só por si, e dificultará grandemente a sua capacidade de adormecer e permanecer a dormir tranquilamente no imediato.

Após uma agitação tão grande antes de adormecer e combinando isto com ter passado muito tempo acordado após ter dado os primeiros sinais de sono, é comum que os bebés despertem pouco tempo depois de adormecerem, mesmo antes de entrarem na primeira fase do sono profundo. Não conseguindo passar da fase de sono leve, denominada de R.E.M.. Esta fase é muito rica em tónus muscular e é onde se dão espasmos no sono. Estes espasmos podem acordar o bebé, que ainda agora adormeceu, o que o fará ter toda a razão para chorar – pois está tão cansado e foi interrompido antes mesmo que conseguisse chegar ao sono mais reparador e profundo.

É normal que os pais, por desconhecimento, façam várias interpretações subjetivas desta situação. Além da que dá o nome a este artigo, podem ser: “Ele não quer dormir”, ou “Ele só quer dormir ao colo”. Esta última em especial porque depois de uma espiral de choro em que se acreditou falsamente que o bebé não queria dormir, os pais se entretanto não desistiram que adormecesse a qualquer custo, persistiram com uma técnica (às vezes desesperada) que induzisse o sono, como colo com embalo, movimento, pancadinhas, deslocá-lo no carrinho, expô-lo a sons, etc. O bebé estando ainda em sono leve, ao ser pousado, por exemplo no berço, pode acordar (porque na verdade, nesta fase pode acordar com qualquer coisa). Mesmo conseguindo entrar na fase de sono R.E.M, com o contexto anterior (de grande desassossego), esta será fase de sono será, mais “agitada” e ao ser deitado no berço poderá acordar de imediato – o que leva os pais a confirmarem a falsa desconfiança -“Ah! Ele não quer é dormir no berço, só quer colo, já tem manhas o piolho!”

Como evitar?

Veja como pode ajudar o seu bebé a lidar com esta situação e algumas estratégias a desenvolver desde cedo, no meu próximo artigo.